A polícia fazia uma operação no início da manhã desta terça-feira (14) para desarticular uma quadrilha que realizava abortos no Rio de Janeiro. Ao todo, são 75 mandados de prisão e 118 mandados de busca e apreensão contra integrantes da organização apontada como a principal responsável pela prática de abortos no estado. Até as 9h, 47 pessoas já tinham sido presas, em vários pontos da cidade. Cinco delas, segundo a polícia, já estavam presas anteriormente.
Entre os presos nesta terça está o médico Aloísio Soares Guimarães, considerado pela polícia como um dos chefes da quadrilha. Também foram presos três médicos, quatro policiais civis, dois policiais militares - entre eles um major - e um bombeiro. Há também apreensão de material, como medicamentos e documentos.
Segundo a Polícia Civil, oito policiais civis, dez médicos, um falso médico, quatro policiais militares, um bombeiro militar, três advogados e um militar do Exército Brasileiro estão entre os que tiveram prisão decretada pela 4ª Vara Criminal da Comarca da Capital.
A investigação, que durou 15 meses, é a maior já realizada para combater esse tipo de prática criminosa no Brasil, em um inquérito policial com 56 volumes e 14.108 páginas. O levantamento mostrou que duas mil mulheres teriam se submetido a alguma intervenção em clínicas clandestinas e 80 delas já foram ouvidas pela polícia.
Durante a apuração, a Corregedoria Interna da Polícia Civil do Rio de Janeiro (Coinpol) constatou que a organização criminosa era dividida em sete núcleos, com área de atuação na capital e na Região Metropolitana. Ao longo das últimas décadas, eles realizavam manobras abortivas em mulheres nas mais variadas fases de gestação, incluindo as avançadas, pelas quais eram cobradas quantias mais elevadas.
A organização criminosa, além de atender gestantes do do Rio de Janeiro, prestava serviços para mulheres grávidas de outros estados, atendendo sempre em locais sem quaisquer condições de higiene e salubridade, expondo a risco a integridade física e a saúde das pacientes. Ainda de acordo com a Coinpol, a quadrilha cobrava até R$ 7.500 por procedimento.
A Operação Herodes conta com a participação de 70 delegados e 430 agentes da Polícia Civil, com o uso de 150 viaturas e apoio da Corregedoria Geral Unificada (CGU), da Corregedoria Interna da Polícia Militar e do Exército Brasileiro. Havia equipes de policiais civis também em São Paulo e Espírito Santo para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão.
Casos recentes
Dois casos recentes de abortos chamaram a atenção da sociedade. Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos, morreu durante o procedimento de aborto. O corpo foi encontrado dentro de um veículo queimado na Zona Oeste da cidade. Depois de mais de um mês de investigações, nove pessoas foram indiciadas pelos crimes de homicídio qualificado, aborto, ocultação de cadáver e formação de quadrilha.
Elizângela Barbosa, de 32 anos, também morreu depois de ser submetida a um aborto em Niterói, Região Metropolitana do Rio. A mulher, que tinha três filhos, estava grávida de cinco meses e decidiu não ter o quarto filho. Na operação, um tubo de plástico foi deixado dentro do útero, fato que foi comprovado pelos legistas. Na delegacia, o marido dela disse que deixou a esposa na periferia de São Gonçalo, onde ela se encontrou com um homem que a levaria à clínica de aborto. Na bolsa, a vítima levava R$ 2,8 mil para pagar pelo procedimento.
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