A Polícia Civil indiciou, nesta segunda-feira (24.04), o casal proprietário de um berçário e hotel infantil em Sorriso (a 369 km de Cuiabá), preso pelos crimes de tortura e castigo, ameaça, maus-tratos e omissão perante a tortura. O inquérito policial foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário. Ambos seguem presos preventivamente.
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Nas investigações apurou-se diversas denúncias de maus-tratos e tortura cometidos pelo casal contra oito crianças de zero a cinco anos.
As investigações apontam que o casal torturava as crianças de maneira explícita, seguros de que não seriam descobertos, visto que a maioria das crianças sequer conseguia falar, já que eram bebês.
No decorrer do inquérito, a Polícia Civil ouviu nove ex-funcionárias do estabelecimento, que corroboraram as denúncias feitas pelos pais das vítimas e relataram ainda as ameaças feitas pelos donos do berçário.
As testemunhas relataram diversas agressões, como tapas nas nádegas e na boca, mordidas, puxões, golpes com raquetes, empurrões e beliscões contra as vítimas. A alegação era de os atos serviam para disciplinar as crianças, mas, as agressões eram imputadas a outras crianças, pela proprietária da creche, quando questionada pelos pais.
Além disso, também foi relatado a existência de um “cantinho do pensamento”, que ficava ao final de um corredor escuro, onde dava acesso ao quarto da proprietária, onde ela trancava as crianças que se comportavam mal e as deixava sozinhas, por até duas horas.
Uma série de relatos chamou a atenção da Polícia Civil durante a investigação. Em um deles, a proprietária do local teria esfregado a calcinha e fralda sujas de fezes no rosto das vítimas, a fim de puni-las por defecarem. Outro relato aponta que uma criança autista foi obrigada pela dona do berçário a comer areia, quando ela forçou um punhado de areia na boca da menor.
Há relatos de sufocamentos, mordidas, tapas e puxões de orelha, conforme narraram as cuidadoras ouvidas na delegacia. Foi narrado também sobre diversas sessões de tortura contra um bebê de um ano, que era amarrado pela dona do berçário a um toco, com um cinto, e deixado debaixo do sol por horas, até chorar e adormecer sentado.
A Polícia Civil também ouviu durante os depoimentos que em uma das situações, a dona do berçário jogou água com uma mangueira no rosto de um bebê. Vários relatos apontam o uso de mangueira contra as crianças, em situações e períodos distintos.
Uma das funcionárias do local narrou que havia severas restrições ao uso do aparelho celular no berçário, e que nunca contou os fatos a ninguém porque achava que não acreditariam nela sem filmagens ou fotos.
Uma das testemunhas contou que trabalhou como ajudante nos cuidados com as crianças, e que bebês de seis a nove meses eram deixados sozinhos no berço, com mamadeiras na boca, e as cuidadoras eram proibidas de pegá-los no colo para alimentar. As crianças eram chamadas de ‘porcos, nojentos, sebosos, mortos de fome’.
A dona do local tirava comida da panela e não esfriava para as crianças e bebês passavam o dia todo sem trocar de fralda. Sobre o dono da creche, foi relatado que ele puxava as crianças pelas orelhas e as colocava de castigo, sentadas em um canto.
Uma testemunha foi intimidada pela investigada que disse que se a denunciasse, saberia que foi ela. A testemunha pediu demissão por não aguentar presenciar o sofrimento das crianças.
A Polícia Civil também ouviu relatos de 17 pais e responsáveis legais pelas crianças que foram atendidas na creche. Foi apontado no inquérito que o casal procurou mães que denunciaram as agressões na tentativa de manipular, dissuadir e intimidar. Diversas testemunhas relataram ameaças pelo marido da dona da creche.
Um dos familiares das crianças contou que o menor ficou com ferimentos depois de um episódio em que teve a boca cheia de areia pela dona da creche. A testemunha contou ainda que a criança ficou com trauma, pois quando passam em frente à creche, o menino grita: ‘Não, não, não’ e se joga para baixo do banco do carro.
A mãe da criança foi ouvida e afirmou que o filho já voltou com a boca cortada da creche e houve mudanças de comportamento no filho, como retração, dificuldade na fala e colocar as mãos no rosto quando alguém se aproximava dele, fechando os olhos, como se estivesse prestes a ser agredido. A mãe da criança conta que foi procurada pela dona da creche quando disse que iria retirar a criança do lugar e foi indagada se sabia de denúncias sobre maus-tratos no estabelecimento.
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