A Polícia Federal (PF) indiciou, sob suspeita de quatro crimes, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. O ex-dirigente é acusado de participar de ações de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos. O processo corre em paralelo ao escândalo de corrupção da Fifa - que resultou na prisão de sete pessoas, entre elas outro ex-presidente da CBF, José Maria Marin. São casos diferentes.
O pedido de indiciamento cita ainda outras quatro pessoas. Entre elas, Sandro Rosell, que foi presidente do Barcelona entre 2012 e 2014 e renunciou ao cargo após ser investigado suposto desvio de dinheiro na compra de Neymar. No inquérito da PF, ele é acusado de falsidade ideológica e falsificação de documentos.
As informações fazem parte de um relatório produzido pela Polícia Federal em janeiro deste ano e enviado ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. O ponto de partida para a investigação são as supostas relações de Teixeira com a empresa Ailanto Marketing, de propriedade de Sandro Rosell. É a mesma firma acusada de irregularidades na realização de um amistoso disputado no Distrito Federal entre Brasil e Portugal, em 2008. A partida custou R$ 9 milhões ao Governo do DF, dinheiro que teria sido pago sem licitação a Ailanto, criada um mês antes do jogo.
Em resposta ao GloboEsporte.com, por email, a assessoria do MPF do Rio afirmou que "as investigações estão sob sigilo" e que nenhuma informação poderia ser passada no momento de forma oficial. A existência do pedido de indiciamento foi revelada nesta segunda-feira pela revista Época.
O relatório aponta como atípicas as movimentações financeiras de Teixeira no valor de R$ 464,5 milhões entre 2009 e 2012 - quando ainda era presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. A análise foi feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.
Um dos fatos apurados pela PF indica que Ricardo Teixeira mantinha contas no exterior e movimentou valores para comprar um apartamento de R$ 720 mil no Rio de Janeiro - cujo real valor de mercado seria de R$ 2 milhões. A investigação alega que o ex-dirigente não teria como comprovar os valores e suspeita da negociação, visto que o proprietário, Claudio Abrahão, teria comprado o imóvel sete anos antes pelo mesmo valor e ainda teria gasto com impostos para a transferência. Cláudio é irmão de Wagner Abrahão, sócio do Grupo Águia, que até hoje atende a CBF.
Outro item investigado trata de supostas irregularidades na compra e venda de ações envolvendo Ricardo Teixeira, Sandro Rosell e Cláudio Honigman, parceiro comercial dos dois dirigentes. A acusação é de que os três teriam movimentado R$ 45 milhões usando a empresa Alpes Eletronic Broker como fachada.
O documento também aponta fraudes em uma suposta venda de uma aeronave particular entre as empresas Brasil 100% Marketing e a Ailanto. A primeira, de propriedade de Sandro Rosell e Cláudio Honigman. A segunda, tem como sócios o ex-presidente do Barcelona e Vanessa Almeida Precht.
Por fim, o relatório pede o indiciamento de Ricardo Teixeira pelos crimes previstos nos artigos 297 e 299 do Código Penal (falsificação de documentos e falsidade ideológica), além do artigo 22 da Lei 7.492/86 (evasão de divisas) e do artigo 1º da Lei 9613/98 (lavagem de dinheiro).
Cláudio Abrahão é acusado de lavagem de dinheiro. Sandro Rosell, Honigman e Vanessa foram enquadrados em falsidade ideológica e falsificação de documentos.
Ricardo Teixeira, 67 anos, foi presidente da CBF de 1989 a 2012, quando deu lugar a José Maria Marin, que está preso na Suíça desde a semana passada. Ele também presidiu o Comitê Organizador da Copa de 2014, no período entre 2009 e 2012, quando foi novamente sucedido por Marin.
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