O jogador de futebol citado por um ex-integrante da principal milícia do Rio por ligação com os chefes da quadrilha joga no Flamengo, como mostrou o RJTV. Segundo o delegado da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Alexandre Capote, o atleta é Luiz Antonio e será chamado para prestar depoimento. O clube informou, em nota, que vai esperar pela conclusão da investigação para se pronunciar.
A polícia chegou até o jogador, que atua no meio de campo do time da Gávea, após depoimento de um ex-integrante da milícia que atuava na Zona Oeste da cidade e teve mais de 20 presos na quinta-feira (7). As declarações foram exibidas no Fantástico deste domingo (10). Entre outras revelações, o criminoso contou que um jogador de futebol frequentava churrascos realizados nos fins de semana, com direito a "muita mulher" e "cerveja".
Segundo a polícia, Luiz Antonio, que atuou como titular na vitória do Flamengo contra o Sport neste domingo, teria dado um carro de luxo a um dos chefes da milícia. Após o presente, ele teria registrado o roubo do veículo em uma delegacia para poder receber o dinheiro de seguro. Segundo os investigadores, o jogador teria cometido estelionato.
"Já foi instaurada uma investigação", disse o delegado da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Alexandre Capote. “Ele presenteou o miliciano para ficar bem com ele e, ao mesmo tempo, cometeu um estelionato, uma fraude com fim de receber o valor do seguro desse carro. Foi um familiar do jogador que comunicou falsamente o roubo desse carro”, acrescenta o delegado.
Policiais foram até o apartamento do jogador Luiz Antônio para entregar a intimação, porém ele não foi encontrado em casa. Pessoas no local informaram que ele não mora mais no endereço na Zona Oeste do Rio há, pelo menos, oito dias.
'Ninguém vê o corpo', diz ex-miliciano
O ex-integrante da milícia diz que artistas famosos também frequentam os churrascos, realizados às sextas-feiras e aos sábados. O depoimento revela ainda que o grupo possui um forte arsenal e os homicídios recorrentes. “Muitas mortes. Passa fogo e acabou. Some com eles dali e ninguém vê o corpo, ninguém vê nada”, contou.
Segundo a polícia, a maior e mais violenta milícia do Rio foi desarticulada com as recentes prisões. O grupo cobra taxas dos comerciantes, das vans de transporte alternativo, cobrava por segurança, pela TV a cabo, pelo gás e até pela cesta básica. “Quem não paga, pode comprar a passagem pro além. Entendeu? Tem que pagar. É assim que funciona”, conta o ex-integrante, que ajudou a polícia do Rio a identificar os criminosos.
Ele diz conhecer como ninguém o funcionamento da quadrilha, que explorava moradores da Zona Oeste da cidade havia mais de dez anos. “Eu sou um ex-componente da firma. Eu era um braço-direito deles”, conta.
Líderes presos há mais de 6 anos
A milícia foi criada pelos irmãos Jerônimo, ex-vereador, e Natalino Guimarães, e ex-deputado estadual do Rio. Eles estão presos há mais de seis anos em um presídio federal de segurança máxima, em Porto Velho, Rondônia, condenados por formação de quadrilha armada. O grupo criminoso é formado, principalmente, por quem deveria estar do lado da lei.
“A maioria é ex-policiais. Ex-policiais e policiais da ativa. A maioria, por isso que tem essa força. A firma é milionária”, revela o criminoso.
Segundo o delegado Alexandre Capote, o lucro era milionário. “Nós constatamos que eles movimentavam cerca de R$ 1 milhão por mês”, conta.
A área de atuação da milícia chegou até condomínios do programa "Minha casa, minha vida", do Governo Federal. Em abril passado, o Fantástico denunciou que essa quadrilha cobrava taxas e serviços dos moradores e expulsava de lá quem não colaborava.
“Centenas de trabalhadores que conquistaram o direito de ter um imóvel, e de uma hora pra outra se viram no meio da rua, expulsos, torturados, ameaçados só porque esses milicianos queriam esses imóveis para vender”, diz o delegado.
Prisões
Nesta semana foi a vez de os milicianos mudarem de endereço. Na terça-feira (5), a Divisão de Homicídios prendeu um dos chefes: o ex-PM Marcos José de Lima Gomes, conhecido como Gão. Ele trocava de casa frequentemente e vivia cercado de proteção.
“Desde o início da rua onde ele mora, tinham pessoas e câmeras que faziam toda a vigilância pra que ele efetivamente não fosse alcançado”, diz o delegado da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa.
“É uma pessoa extremamente perigosa, audaciosa, e que controlava, dividia a liderança da milícia com mão de ferro”, acrescenta Capote.
Dois dias depois da captura de Gão, a equipe da delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas prendeu mais 22 integrantes do grupo, entre eles João Henrique Barreto, o Cachorrão. “Ele era ainda policial militar, um suboficial, e lotado no Batalhão de Campo Grande, que é a área de atuação dessa milícia”, destaca Capote.
Segundo o ex-integrante da milícia, a quadrilha tem armamento pesado. “Hoje, tem 168 fuzis. A arma que chega, eles pagam, eles compram. Isso é brinquedo pra eles”, conta.
Além do poder de fogo, os comparsas gostam de mostrar poder, de ostentar. “Sexta e sábado sempre tem um churrasco. Chope à vontade, mulher à vontade. E de vez em quando aparece um cantor famoso, um jogador de futebol de um time grande do Brasil para prestigiar”, conta o ex-miliciano.
Além da ligação com o jogador de futebol, a polícia também vai investigar os papéis apreendidos com os milicianos que foram presos. “Nós apreendemos contabilidade, que causa perplexidade, por dois motivos. Primeiro, pela organização. Está tudo planilhado, bem como outros documentos, por exemplo, as cartas que mostram que existe uma vinculação entre as pessoas que estão presas e quem está aqui fora”, diz o delegado Rivaldo.
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