O Grêmio tenta não se acomodar com o bom comportamento da torcida no último jogo na Arena e, para quinta-feira, prepara uma nova carga de cuidados. Até porque a circunstância recomenda. A partir das 20h30m, o Tricolor recebe o Santos de Aranha, vítima em 28 de agosto de injúrias raciais, caso que excluiu o clube gaúcho da Copa do Brasil. Para tanto, o estádio ficará de olhos e também ouvidos bem abertos, com câmeras especiais e "espiões".
Entre as novidades mais significativas, destaca-se a colocação de "infiltrados" no espaço da Geral, que comporta cerca de 5 mil pessoas e não tem cadeiras. Serão orientadores postados à paisana em locais estratégicos do setor, preparados para coibir tentativas de agressões, físicas e verbais, que possam novamente prejudicar o clube. A ideia havia sido pensada para jogos anteriores, mas só agora será posta em prática.
- Claro que ninguém vai evitar um canto de uma multidão, não tem como evitar, mas será uma forma de coibir atos isolados - projeta o assessor para assuntos de torcida do Grêmio, Lauro Noguez, ao GloboEsporte.com.
Além dos orientadores "disfarçados" e dos identificados, haverá câmeras posicionadas com foco exclusivo na área da Geral. A quantidade de câmeras, originalmente de 240 com boa parte em HD, já havia sido ampliada em 30% no último confronto, vitória de 1 a 0 sobre o Atlético-PR, na quarta. Agora, haverá algumas câmeras com microfones, o que faria o clube ganhar tempo na identificação de uma eventual infração, abrindo mão de peritos em leitura labial.
O Grêmio conseguiu identificar torcedores que entoaram cânticos racistas no jogo contra o Bahia, em 31 de agosto, logo após o "caso Aranha". No entanto, de acordo com Noguez, todos os identificados não são sócios, o que dificulta a abertura de uma sindicância interna para punições imediatas.
O certo é que a Geral segue proibida de levar instrumentos e adereços que a identifiquem como uma torcida organizada. O primeiro jogo com essa medida em voga ocorreu contra o Atlético-PR. Houve sucesso, nenhum conflito fora registrado. O que se tornou um alento para a direção do clube, que acredita numa "nova era" no modo de se torcer na Arena.
Após os incidentes do fim de agosto, chegou-se a cogitar, além da punição à Geral, na extinção do espaço sem cadeiras, o mais popular do estádio. Caso o bom comportamento do último jogo se confirme nas próximas rodadas, a tendência é de que essa ideia seja cada vez mais relegada a um segundo plano.
O Grêmio confia no seu torcedor. Ali, é um lugar para se torcer de pé, cantar, incentivar. O clube precisa
Lauro Noguez, dirigente do Grêmio
- O Grêmio confia no seu torcedor. Ali, é um lugar para se torcer de pé, cantar, incentivar. O clube precisa disso. Os jogadores se sentem protegidos na sua casa, e o Grêmio não quer abrir mão disso. Vamos tentar insistir até o final, sem fechar o setor. Contra o Atlético-PR, eles se comportaram muito bem e mostraram que não precisam de instrumento. Só no gogó mesmo é suficiente para ecoar no estádio - define Noguez.
Mesmo esperançoso, o Grêmio adiantou-se com uma medida preventiva, além dos procedimentos programados para o dia do jogo. O clube determinou limitações na venda de ingressos para o jogo da 22ª rodada do Brasileiro.
Será destinado um ingresso para cada pessoa que quiser assistir à partida neste setor, e não quatro, como é a rotina adotada para todos os setores pela administradora do estádio. A ideia é vincular o ingresso a um CPF, facilitando a identificação do usuário em caso de eventuais conflitos.
Relembre o caso
O incidente no jogo entre Grêmio e Santos, na Arena do Grêmio, em 28 de agosto, ocorreu aos 42 minutos do segundo tempo, quando Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida. O goleiro registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia na sexta.
A maior repercussão recaiu sobre uma jovem mostrada pelas imagens do canal ESPN. Patrícia Moreira, 23 anos, foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Em 4 de setembro, prestou depoimento à polícia e, na sexta, pronunciou-se à imprensa, pedindo desculpas a Aranha e ao Grêmio, sob forte comoção. No total, dez pessoas já foram ouvidas pela polícia, que ainda não concluiu o inquérito.
As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o goleiro tiveram outro desdobramento. Em julgamento no dia 3, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu, por unanimidade, excluir o Grêmio da Copa do Brasil. No primeiro duelo das oitavas de final, os paulistas bateram os gaúchos por 2 a 0. Haverá julgamento em segunda instância, no Pleno do STJD, ainda sem data oficializada.
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