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Esportes Terça-feira, 10 de Setembro de 2013, 09:54 - A | A

Terça-feira, 10 de Setembro de 2013, 09h:54 - A | A

Filho tricolor, Muricy é última cartada de Juvenal para evitar rebaixamento

Diretoria aposta em raízes de mais de 40 anos do técnico no São Paulo para impedir queda.

do Globoesporte

No último dia 22 de agosto, completaram-se 40 anos da estreia de Muricy Ramalho como jogador do time profissional do São Paulo. Foi em 1973, num amistoso contra o União Bandeirante. O novo técnico do Tricolor tem uma relação de amor com o clube, o qual frequenta desde a década de 1960. O fator emocional, seu passado vitorioso e a idolatria da torcida foram as principais razões para que o presidente Juvenal Juvêncio decidisse contratá-lo para o lugar de Paulo Autuori menos de dois meses após tê-lo preterido na escolha.

O retorno ao São Paulo após ter sido mandado embora em 2009, por conta da eliminação na Libertadores para o Cruzeiro (além de desgaste com a diretoria), era um objetivo de Muricy Ramalho.

Ele sempre admitiu a amigos que nunca foi tão feliz no trabalho como nos tempos em que comandava o Tricolor. Acompanhou o clube e jamais perdeu contato com pessoas mais próximas, como o auxiliar Milton Cruz. Ambos fizeram parte do grupo campeão brasileiro de 1977, como jogadores, e estiveram nos títulos de 2006, 2007 e 2008. Na época de atleta, uma grave lesão impediu que Muricy disputasse a Copa do Mundo de 1978. Ele era muito bem cotado, mas perdeu a chance.

Em entrevistas recentes, o treinador também não se incomodou em afirmar que assumiria o comando do São Paulo até mesmo na Série B. Seus filhos são torcedores do clube, e, na última passagem, entre 2006 e 2009, ele eternizou gestos como o de bater no braço quando ovacionado, e criou uma cumplicidade enorme com a torcida.

Muricy chegou ao Tricolor para trabalhar na comissão técnica de Telê Santana em 1994. Comandou por vezes o famoso Expressinho, enquanto os titulares disputavam os principais jogos, e assumiu o time principal em razão dos problemas de saúde do chefe. Também substituiu Carlos Alberto Parreira de maneira interina, e acabou efetivado. A demissão, no início de 1997, criou nele uma obsessão em retornar.

Seu grande momento foi o tricampeonato brasileiro. Tornou-se ídolo da torcida, mas colecionou farpas com dirigentes. Seu principal aliado era Juvenal Juvêncio. Os demais não gostavam de seu jeito duro, seco, e da sua falta de disposição em se relacionar com eles.

- Não adianta ir na minha casa, me chamar para jantar, que eu não vou - repetiu Muricy por diversas vezes enquanto trabalhou no Morumbi.

Esse aspecto amedronta os atuais diretores do clube. Quando Ney Franco foi demitido, em julho, a diretoria avaliou que Autuori seria um nome mais adequado, pois tinha maior tendência a escalar garotos na equipe, e também facilidade para lidar com o aspecto psicológico dos atletas. Pesou também seu temperamento mais brando.

Time não reagiu com Autuori

O trabalho de Autuori foi considerado bom e tinha respaldo dos atletas e da comissão técnica, mas os resultados não vieram. No intervalo do último jogo contra o Coritiba, a derrota por 2 a 0, Autuori, campeão da Libertadores e do Mundial pelo São Paulo em 2005, chegou a dizer aos jogadores que se o fato de eles não conseguirem jogar bem não era culpa deles, então o problema seria do comandante.

Mesmo com as ponderações das duas maratonas enfrentadas pelo time, que atuou quatro vezes em oito dias em jogos na Alemanha, em Portugal e no Japão, e depois repetiu a sequência com partidas adiadas do Brasileirão, a péssima posição na tabela, na zona de rebaixamento na virada do turno, deixou os cartolas apavorados. Principalmente, temerosos de que o mau rendimento em campo atrapalhasse o processo eleitoral, que ferve o Morumbi.

Na visão de Juvenal, Autuori não teria forças para fazer o time escapar da queda. O São Paulo procurou Muricy na manhã de segunda, confiante de que ele aceitaria o cargo, mas o técnico disse que não conversaria enquanto Autuori estivesse no cargo. A diretoria só demitiu o carioca porque tinha certeza do "sim" do tricampeão.

Ceni, um amigo

O novo técnico já foi informado dos problemas da equipe. Falou sobre jogadores que não estão rendendo o esperado, esquema tático, entre outras questões que terá de resolver o mais rapidamente possível. Em sua chegada, ele vai reencontrar alguns atletas com quem já trabalhou.

Um deles é o goleiro Rogério Ceni, seu amigo. Foi Muricy quem o autorizou a bater faltas, no fim de 1996. O primeiro dos 112 gols do capitão foi marcado com o técnico no banco, assim como quando bateu o recorde de Chilavert (62 gols) e se tornou o jogador da posição com mais gols na história do futebol.

A terceira passagem de Muricy pelo Tricolor também vai marcar uma nova chance de comandar Paulo Henrique Ganso. Ambos foram campeões da Libertadores pelo Santos, mas o meia já não vivia seu melhor momento. Ele sempre falou muito bem do técnico, a quem considerava um "pai", e disse, em sua apresentação ao São Paulo, em setembro do ano passado, que esperava trabalhar novamente com ele, só que no Morumbi.

Com Muricy, a diretoria espera vender todos os 43.574 ingressos para a partida de quinta-feira contra a Ponte Preta. Será a reestreia do treinador, tão desejado pelo público, que já gritava seu nome desde que Ney Franco ocupava o cargo. Uma relação emocional que pode salvar o São Paulo na avaliação, e na última cartada de Juvenal.

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