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Copa do Mundo Sexta-feira, 30 de Maio de 2014, 10:40 - A | A

Sexta-feira, 30 de Maio de 2014, 10h:40 - A | A

Copa do Mundo

Renascido, Laor diz: dinheiro da venda de Neymar inclui cafezinho, orgia e p...

Ele foi o presidente mais vencedor da história do Santos fora da era Pelé

mns.com

Ele foi o presidente mais vencedor da história do Santos fora da era Pelé. Foram sete títulos - incluindo a Libertadores de 2011 -, muitas declarações memoráveis e a fama de ter segurado Neymar no Brasil, mesmo com o assédio do futebol europeu. Mas teve que se afastar por problemas de saúde que quase o levaram à morte. Pois Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, o popular Laor, sobreviveu. E exatas duas semanas após renunciar à presidência alvinegra se mostrou renascido. Com 41kg a menos, recebeu a reportagem da ESPN.com.br em sua casa, na Vila Madalena, em São Paulo, e falou sobre tudo. Não perdoou o pai de Neymar, demonstrou tristeza com Odílio Rodrigues, xingou Mano Menezes e Luxemburgo e até relacionou "cafezinho, orgia e p... (termo vulgar para prostituta)" à venda de Neymar ao Barcelona.

"Nesses 90 milhões de euros estavam incluídos o dinheiro do cafezinho do pai do Neymar e uma orgia no hotel Piccadilly, em Londres. Porque ele (pai do Neymar) cobra qualquer coisa. Ele nunca me pagou um café. E eu paguei uns 200 cafés para ele. Então esses 90 milhões são exagerados. Isso inclui p...", disse Luis Alvaro. "Achava que o pai do Neymar era meu amigo. Mas hoje não quero ver na frente do meu carro, pois senão ao invés de brecar eu acelero. Não estendo a mão para ele. E, se estender, é para dar uma porrada", acrescentou o ex-presidente. "Estive praticamente morto. Estou com 82kg. No auge de euforia do Santos estava com 123kg. Eu revivi. Estou me sentindo bem, não sinto falta de ar", comemorou.

O ex-mandatário alvinegro começou a se afastar da presidência ainda no final de 2012, quando passou a ter problemas de saúde maiores. As doenças no coração e no pulmão foram se agravando e se tornaram crônicas. Laor foi obrigado a pedir licença de um ano do cargo, em agosto de 2013, até a renúncia para seguir em tratamento, há duas semanas. Nesse meio tempo, ficou entre a vida e a morte, mas sobreviveu com muita luta, apoio da família, da enfermeira Andréa e de sua própria força de vontade. Agora quer aproveitar ao máximo com as seis filhas e tenta resgatar sua empresa dos problemas econômicos. Longe do futebol, um meio com tanta falsidade. Como a de Mano Menezes...

"O filho da p... do Dalton Menezes. Dalton não, Mano Menezes. Eu chefiei a delegação dele (no amistoso da Seleção Brasileira contra os EUA, em agosto de 2010) e ele me disse que ia dispensar o Neymar para jogar contra o Corinthians. Na última hora, não dispensou. Sujeito falso. Como também não faço questão de ver o (Vanderlei) Luxemburgo. Embora outro dia eu tive de passar pelo constrangimento de sentar na mesa de jantar ao lado dele. E se acha lindo. 'As mulheres me adoram. As mulheres se jogam no meu pé'. Eu detesto gente convencida. Prepotente. Comigo isso não funciona", declarou Luis Alvaro, que não se esqueceu de outro desafeto: "Andrés Sanchez. Não quero mais falar com ele".

Sobre Odílio Rodrigues, Laor afirmou ainda ser amigo do atual presidente santista, apesar de demonstrar tristeza com algumas atitudes do ex-vice. "Uma coisa que o Odílio fez e eu realmente não gostei foi que no dia que eu renunciei ele demitiu todos os profissionais que eu tinha contratado. Tinha que me dar satisfação, não me deu. Como no caso do Leandro Damião. Nem um telefonema para perguntar o que eu acho. Acho estranho um cara como eu, ter ganho os titulos que ganhei, não ter recebido uma única consulta", lamentou o ex-mandatário que venceu, além da Libertadores, três Campeonatos Paulistas (2010, 2011 e 2012), uma Copa do Brasil (2010), uma Recopa Sul-Americana (2013) e uma Copa São Paulo (2013).

E tem muito mais: medo da Série B, criticas duras para o técnico Oswaldo de Oliveira, relação com Neymar jogador, decepção com o futebol, recusa de convite para a Copa do Mundo, etc. Leia a entrevista completa logo abaixo.

Luis Alvaro: Hoje estou melhorando. Mas passei por um mês e meio em que estive praticamente morto. Tive um problema no coração, fizeram uma tomografia e o médico não me deixou ir para casa. Mandou ficar com a cueca e a meia que estava. Mandou fazer outra tomografia que deram extremos totalmente malucos. E fui salvo.Voltei para casa depois de uma semana. Mas diagnosticaram coisas mais graves, até que um dia faço uma consulta e me internam de novo. Fiquei 25 dias internado. E no dia que fui internado foi para uma coisa boba. Para fazer uma colonoscopia. Só que o médico resolveu fazer uma biópsia e fez um furo maior do que devia no pulmão. Voltei para casa depois de sair da anestesia geral. Fiquei sozinho com a empregada. Liguei ao hospital, mandaram eu voltar já, demorei meia hora até minha filha chegar e cheguei já na maca, na porta da cirurgia, e eu ouvi dois médicos comentarem que eu tinha de 10 a 20% de chance de sobrevivência. Entrei na anestesia sabendo disso. Fiquei 27 dias no hospital. Todo mundo dizia: 'você tem que renunciar, você não tem saúde física para levar vida que levava'.

ESPN: E aí?

Luis Alvaro: Bom, tinha apartamento em Santos e morava aqui. Trabalhava 13 horas por dia. Até 10 horas da noite. Acordava cedo, era um trabalho exaustivo. Como entrava pelo elevador do hospital, todos que queriam falar do Santos me pegavam na porta. Reclamavam da bandeirinha colocada errada no escanteio. Da linha lateral da Vila torta. Coisas que não tinham nada a ver com o presidente. Outros pediam emprego porque trabalharam no Santos em 1945. Era uma vida de matar, e eu teria morrido se não fosse isso. Aí nos 27 dias na UTI eu criei uma piada. Como o hino diz 'nascer, viver e no Santos morrer', eu dizia que nasci, vivi e só faltava agora morrer no Santos para completar o hino comigo. O pessoal ficava uma arara, minhas filhas queriam me internar em um hospício.

Aí entrei em depressão quando vim para casa. Não lia jornal, não ouvia rádio, não via internet e não falava com ninguém. Não queria saber e era proibido de receber visita. Dormia de 16 a 18 horas por dia por causa dos remédios. Aí troquei de médico, que mudou os remédios e justificou por eles minha falta de ar. Eu falando com você aqui já estaria ofegante. Para abrir a porta também. Começou isso em Santos, no Japão. O Odílio me atendeu no hospital na época. Não tinha fôlego para ir do meu quarto ao banheiro. Não podia falar com ninguém, foi um período terrível, que dá a outra face: 'será que valeu a pena eu quase ter morrido, tendo ainda seis filhas?'. E minha empresa que eu tinha com meu genro que trabalhava lá há 10 anos, de confiança, botei ele com procuração total de empréstimos para a empresa, sacar dinheiro da minha conta, etc. Resultado? Quando fui para o hospital ter essa quase morte, esse infarto pulmonar, fiquei sabendo que ele deu um golpe de 500 mil reais.

ESPN: Como foi isso?

Luis Alvaro: Fiquei desesperado. Naquela situação, sem falar com ninguém, você pode imaginar o desespero. A minha sorte é que eu tenho um cliente grande amigo meu que tem uma dívida futura comigo, que vai vencer daqui a dois anos, que me emprestou dinheiro para quitar essas dívidas. Não devo nem um tostão para ninguém, mas preciso recomeçar minha vida profissional. Estou indo uma vez por semana na empresa. Vou começar a ir duas semana que vem.

ESPN: E os médicos liberaram?

Luis Alvaro: Estão liberando. Me liberaram a dirigir. Eu queria que me liberassem a dirigir para ir no bairro, na padaria, e o médico fechou a cara e disse: 'você é de responsabilidade, não vai fazer loucura, então te autorizo a ir pelo bairro'. Aí 'botei as asinhas de fora'. Ia na farmácia, no supermercado, jantava fora, e eu não comia nada. Estou com 82kg. No auge de euforia do Santos estava com 123kg. Eu revivi. Muita gente não me reconhece na rua e ficam me olhando 'você não é o Luis Alvaro?'. Mas estou me sentindo bem, não sinto falta de ar, os remédios atuais deram certo. Botei uma enfermeira que cuida de mim com dedicação absoluta, estou renascendo para a vida.

ESPN: E nesse período sentiu falta de algo? Alguma comida, por exemplo?

Luis Alvaro: Nada. Eu sempre gostei muito de comer. Muito. Mas nunca tive vontade de comer nada nesse tempo. Strogonoff de camarão, aquele camarão no espeto com queijo, risoto de funghi, nada. Para não dizer nada, no sábado passado, ficaram me enchendo para comer. E eu como igual uma criança de cinco anos, e de vez em quando vou com as minhas filhas em um restaurante e me deu vontade de comer feijoada. Fui no Rubaiyat, que pode se servir nas cumbucas. Eu servi um terço do prato, que é grande, e deixei menos da metade desse terço. Fiquei com vergonha do garçom. E tomei também meio choppinho. Não tomava há seis meses. O médico autorizou meio copo de vinho quando saísse para comer fora. Então me sinto de novo outro cara, animado com a vida, querendo viver e ver o Santos passar por essa crise que vai passar no segundo semestre. E no ano que vem, dependendo de quem for eleito, para pior...

ESPN: Dá para temer cair para a Série B?

Luis Alvaro: Sim, eu estou temeroso pela segunda divisão. E pior. Temo que o Santos vire um time permanentemente medíocre. Um Linense. Um São Bento de Sorocaba. Um Guarani, que de vez em quando dá um salto. Se continuarem gastando assim... O Damião, R$ 42 milhões que devemos. Pagamos 10% ao ano de juro, R$ 4,2 milhões. E R$ 500 mil de salário. Ele custa R$ 900 mil por mês. O Cícero veio por R$ 300 mil de salário, pulou para R$ 350 mil e agora quer ganhar R$ 500 mil. E mais que se compre uma parte do passe. Então você veja... (reportagem interrompe)

ESPN: ...Presidente, o Cícero foi para o Fluminense, fechou ontem.

Luis Alvaro: Ele saiu? Não sabia. Não tenho lido jornais. O Fluminense também tem dinheiro... Então. Eu tenho muito medo. Me peguei outro dia em uma situação inédita na minha vida. Minhas filhas vieram almoçar aqui, estava com sono e resolvi subir para dormir. E começava o jogo do Santos às 16h. Assisti 5 minutos de jogo e desliguei a televisão. Veja, perdi jogo podendo assistir. Perdi o tesão, naquele dia não tive. Estava desanimado. O Oswaldo de Oliveira é medíocre. Escala mal, escolhe mal. Então estou muito decepcionado com o Santos. Depois dos três anos que andamos para a frente e inserimos o Santos no futebol mundial! Disputamos final de Mundial, revelamos o melhor do mundo. Segurei o Neymar por três anos. Ninguém tinha conseguido até hoje. E terminar como o Linense...

ESPN: O Odilio te consultou sobre o Damião?

Luis Alvaro: Nem um telefonema para perguntar o que eu acho. Eu responderia que é um jogador que estourou no primeiro ano do Inter, mas tenho 71 anos, vi isso na vida. O cara estoura, é um foguete, marca 55 gols, e um ou dois anos depois acaba, desaparece. Não vejo no Leandro Damião classe e categoria para jogar no Santos. Não tem estilo de jogo do Santos. Esse negócio de atacante trombador é coisa do passado. A bem da verdade o Odílio me ligava a cada mês e meio para me perguntar da saúde.

Nota da reportagem: Leandro Damião custou R$ 42 milhões, em transação que teve parceria de do grupo Doyen Sports com o Santos. Três parcelas já foram pagas, a terceira de R$ 9,3 milhões. A quarta e última será cobrada apenas em novembro.

ESPN: Acha que o Odílio te traiu?

Luis Alvaro: Não devemos guardar mágoas e nem fazer de um gesto... (pensa)... Bom, talvez pressionado por dois caras que pretendo não dizer o nome, pois prometi nunca mais dizer, esses dois pressionaram muito o Odílio. O Odílio frequenta a Santa Marta, em Santos, e é pressionado por esses dois caras todo dia. E ele cedeu à tentação de ser presidente do Santos e achava que ia marcar um golaço, que seria ser presidente contratando o Leandro Damião.

Nota da reportagem: A Santa Marta é uma casa de gastronomia em Santos localizada no bairro do Gonzaga que é popularmente frequentada por membros considerados da alta sociedade da cidade.

ESPN: E foi gol contra?

Luis Alvaro: Pois é. Acho estranho um cara como eu, ter ganho os titulos que ganhei, não ter recebido uma única consulta. 'Veja, o que acha do Damião?'. Nada. O Mena (Eugenio, lateral esquerdo) é outro. O Willian José... Esse eu vetei. Estava em exercício ainda. Vetei em uma reunião. Na reunião seguinte eu não pude ir, estava internado. E na outra contrataram o Willian José. Eu o via como refugo de São Paulo e Flamengo. E tinha descoberto uma sacanagem. Os ingleses compraram o Willian José por R$ 2 milhões e puseram na negociação que se ele fosse vendido tudo acima de R$ 4 milhões iria metade para o Santos. Portanto estavam roubando antes. Fiquei indignado. Não topo fazer negócio com gente imoral. Quando comentei no Comitê, me disseram que resolveram no Comitê passado e que o voto já passou. Achei uma p... falta de respeito.

Nota da reportagem: Willian José pertence ao Deportivo Maldonado, da segunda divisão uruguaia e usado por empresários para aliviar a carga fiscal aplicada a investidores que possuem direitos de transações de jogadores. Foi criado em 2010, quando Malcolm Caine e o advogado Graham Shear, de Londres, entraram na presidência. O atacante atualmente está emprestado ao Real Madrid. Já o "Comitê" em questão é o Comitê de Gestão instituído na agremiação praiana, onde nove membros - incluindo o presidente e o vice, além de sete diretores - têm direito a voto igual em todas as decisões do clube.

ESPN: Por quê?

Luis Alvaro: Largo tudo, minhas filhas, minha casa, minha vida, e um 'idiotinha' vem com essa para cima de mim. Eles que moram em Santos e veem suas famílias todos os dias. E eu sozinho, sem amigos, sem companheiros, sem poder ir no cinema, sem poder comer fora. Então achei isso muito desgastante para mim. E aí entrei em depressão e isso terminou com essa reunião, eu muito deprimido mesmo, mal conseguia andar. Eu saí do hospital com uma diarreia... Demorou 25 dias. E eu não podia sair da minha cama senão para ir ao banheiro, o caminho era curto. Aí que contratei a enfermeira, que cuidou de mim como minha mãe não cuidaria melhor. Cuidei da diarreia, que virou prisão de ventre. Não conseguia sentar e tive que tomar remédio para soltar o intestino. Foram tragédias semanas atrás de semanas. Aí minhas filhas e os médicos me deram o ultimato para sair.

ESPN: Foi o dia em que o senhor decidiu renunciar?

Luis Alvaro: Veja, todos eles, muito calmos, ponderados. Minhas filhas diziam: 'pai, você volta nos três últimos meses do mandato'. No meio do processo eleitoral, com o Santos dividido de baixo a baixo. Com quatro ou cinco grupos divididos e a equipe mal em campo. Uma coisa que o Odílio fez e eu realmente não gostei foi no dia que eu renunciei ele demitiu todos os profissionais que eu tinha contratado. Demitiu o Vella (Luiz Fernando, ex-gerente de patrimônio). O Hélio, do financeiro. O Neto (Armênio, ex-gerente de marketing). O Arnaldo Hase (ex-gerente de comunicação). Todos que nos deram infraestrutura. E achei isso pelo menos deselegante. Tinha que ter me telefonado e dito que precisava demitir os caras que eu nomeei por isso, isso ou isso. Tinha que me dar satisfação, não me deu.

ESPN: Por consideração mesmo?

Luis Alvaro: Como amigo. Eu era amigo do Odílio. Eu o convidei para ser vice. Eu. Eu convenci ele, que era secretário da saúde, a ser vice. Nunca tomei atitude importante sem consultar antes o Odílio. Eu passei a negociação do Neymar ao Odílio, pois estava doente já. Não falei com um único espanhol. Nenhum. Não escutei sotaque ibérico durante os dois meses enquanto o Odílio negociava. Aí veio o negócio dos 8 a 0. E no Conselho, na assembleia, dizem que eu fui o responsável pela maior goleada que o Santos tinha sofrido. Eu? Eu estava doente. Estava em casa. E o Odílio me disse que os espanhóis colocavam como condição obrigatória para fazer o acordo de perspectiva de jogadores, de competência técnica de treinamento, de amistosos uma vez por ano, dos dois amistosos que iam ter agora. Um para o Santos garantir no mínimo de R$ 4 milhões, e o Barcelona deu 8 a 0. Me disseram que eu tinha sido o culpado.

ESPN: Foi o Odílio então que participou das reuniões?

Luis Alvaro: De todas. Todas. E isso tudo foi... (pausa). Meu tempo já passou. Não tenho muito tempo mais de vida. Vou ver se aproveito o que me resta.

ESPN: E quem foi envolvido como prioridade nesse acordo de perspectiva de jogadores? Gabigol e Victor Andrade?

Luis Alvaro: Sim. Mas é relativo isso. Se tiver proposta, eles (do Barcelona) têm o direito de cobrir pelo valor da proposta mais alta, mesmo porque somos obrigados a isso. Tenho uma multa contratual. Então era inútil essa cláusula. A carta que eu assinei era absolutamente inútil. Pois ele (Neymar pai) falar com qualquer outro clube durante o contrato... O que eu ia fazer para ele não falar? Ia ter que tomar banho com ele, dormir com ele? É impossível controlar. Até porque ele já tinha falado e definido com o Barcelona

ESPN: Já tinha recebido 10 milhões de euros?

Luis Alvaro: Tinha recebido os 10 milhões de euros. E para mim ele desmentia, indignado, e dizia que não era mentiroso. Que era um cara de uma palavra só.

ESPN: E o senhor não tinha ideia do que se passava?

Luis Alvaro: Não. Achava que o pai do Neymar era meu amigo, que o Odílio era meu amigo, e ainda um sujeito muito solidário. Continuo amigo do Odílio e o pai do Neymar não quero ver na frente do meu carro, pois, senão, ao invés de brecar eu acelero. É um mentiroso, aproveitador, só pensava em dinheiro. Para se ter uma ideia, nos últimos contratos ele exigiu uma cláusula na qual o clube deveria pagar passagem de avião de primeira classe para ele e duas de classe executiva para os assessores dele para ver o Neymar jogar lá fora. Fosse pela Seleção, fosse pelo Paulista de Jundiaí. Um cara com a grana que ele tem... Ganhava R$ 3 milhões por mês. Tinha iate de 70 pés. Duas casas no Jardim Acapulco (no Guarujá, litoral de São Paulo) vizinhas de muro para o moleque fazer farra e a mãe poder ir sem precisar ver as farras. Tinha casa em Camboriú em Santa Catarina. Então fiquei decepcionado. É mau-caráter, mentiroso, duas caras. Veio aqui em casa, o recebi... Mas esse é o lado triste que procuro esquecer do futebol.

ESPN: Depois que saíram os valores todos, qual foi sua reação? Afinal, o Santos recebeu só 17 milhões de euros do total de quase 90 milhões de euros...

Luis Alvaro: (interrompe)... Na verdade as coisas não são bem assim. O Santos tinha uma participação para pagar para a DIS. E nós bolamos um outro negócio que não fosse somente de compra e venda. Montamos um pacote de interesses comuns, como se Santos e Barcelona tivessem feito uma fusão. Nesses 90 milhões estava incluído o dinheiro do cafezinho do pai do Neymar e uma orgia no hotel Piccadilly, em Londres. Porque ele cobra qualquer coisa. Ele nunca me pagou um café. E eu paguei uns 200 cafés para ele. Então esses 90 milhões são exagerados. Isso inclui p... (termo vulgar para prostituta). Inclui um jatinho para levar ele para o jogo em Florianópolis naquela partida que veio da Seleção. Dinheiro não faltava. Tinha o Cury, um assessor do Barcelona, que tinha ordem para gastar da forma que quisesse com o Neymar.

ESPN: Como é o negócio do Piccadilly?

Luis Alvaro: (pausa)... O Picadilly é um dos hotéis mais luxuosos de Londres e é onde a rainha toma chá. E era o que ele queria.

ESPN: E quanto àqueles 40 milhões de euros para a empresa do pai do Neymar?

Luis Alvaro: Ele devolveria se o Santos abrisse mão com o Barcelona. Devolveria os 10 milhões com 40 milhões, mas incorporou tudo.

Nota da reportagem: o Barcelona divulgou que Neymar custou 86,2 milhões de euros (ou R$ 284,5 milhões), sendo 40 milhões à empresa do pai de Neymar, 10 milhões de luvas para o jogador, 2,7 milhões de comissão de agentes, 17,1 milhões ao Santos, 7,9 milhões para ter prioridade em três promessas (entre elas Gabigol e Victor Andrade), 2,5 milhões para o Instituto Neymar Jr e 4 milhões de direitos de imagem. Os valores são todos em euros.

ESPN: Dá para dizer que ele traiu você e o Santos então?

Luis Alvaro: O pai foi sacana. Mas o Neymarzinho é um garoto. Do bem. Sorridente. Meu amigo. Aceitou ficar os três anos comigo, pois o pai não queria. Sempre tivemos boa relação. Sempre fiz todas as vontades dele. Então quando o Neymarzinho deu essa declaração dizendo que ficou decepcionado comigo é porque chamei o pai dele de mentiroso e falso. E que não o considerava mais meu amigo para o resto da vida. O filho reage. E estou pouco me lixando. A vida dele é cheia de dinheiro. Ele ainda tem uma carreira razoável pela frente, mas um dia acaba. Um dia entra em decadência. A vaia que ele tomou naquele jogo da Seleção no Morumbi (contra a África do Sul) foi uma facada no coração dele. A partir daí cheguei à conclusão que o Neymar tinha que ser vendido. Ele passou a jogar mal, com displicência e sem sorriso. Sem empenho para jogadas bonitas. Mudou, ficou humilhado de ver o Morumbi inteiro vaiar o rei da Inglaterra. Ele se achava o rei da Inglaterra.

ESPN: Não tem acompanhado ele na Europa?

Luis Alvaro: Não, não. Não faço a menor questão.

ESPN: E se um dia revê-lo, como vai ser?

Luis Alvaro: Não tenho a menor vontade. Um dia a gente se encontra, provavelmente, e falarei com ele com toda a educação. Com o pai não. Não estendo a mão para ele. E, se estender, é para dar uma porrada.

ESPN: Nem na Copa vai acompanhar?

Luis Alvaro: Recebi convite para a tribuna de honra, pois sou da Fifa também, e não aceitei. Eram 10 ingressos. Não quero ver a estreia nem nada. Estou desanimado com o futebol.

ESPN: Acabou a paixão pelo futebol?

Luis Alvaro: Não, pois nasci dentro de um formato de uma bola e vou morrer gostando. Mas o tesão, as decepções... O tesão foi valioso. Passei a fazer parte da história do Santos. Minhas filhas e netos vão se orgulhar disso. E tem uma coisa que não tem preço. Vou três vezes por semana ao Einstein fazer fisioterapia e não há um único dia em que um anônimo que não conheço, palmeirense, corintiano, são-paulino, sem contar os santistas, que não venham me cumprimentar. Eles dizem: 'você foi o administrador mais sério do futebol brasileiro nos últimos anos, defendeu seu time com garra a paixão'. Um santista caiu de lágrimas no meu agasalho dizendo que na Libertadores dei a maior alegria da vida dele. Então esse reconhecimento vale a pena. No supermercado, no posto de gasolina, o povo reconhece. Um sujeito no posto de gasolina me perguntou se eu me chamava Luis Alvaro e disse, emocionado: 'é o presidente do meu clube'. Essa alegria compensa as decepções que eu tive. Não tem preço.

ESPN: E sua relação com os presidentes de clubes rivais na época, como é hoje?

Luis Alvaro: Andrés Sanchez não quero mais falar com ele. Ele dizia que não tinha interesse nenhum no Ganso e que nunca tinha assediado o Neymar. No livro que escreveu depois ele conta que assediava o Ganso para deixar o Santos inseguro e que fez proposta de R$ 100 milhões ao Neymar. Um cara que mente e assina é um cara de convivência não muito boa. O Juvenal conheço há 50 anos. Não gosto do estilo dele de agir no futebol, de contratar caras de outros times, etc. O Tirone me ligou semana passada, quer conversar comigo, não tenho ideia do que se trata. O presidente do Corinthians (Mário Gobbi) é meu amigo, me faz a maior festa. O presidente da federação (Marco Polo Del Neto) é meu amigo. O Marin (José Maria, presidente da CBF) é meu amigo, sempre é muito gentil comigo e cita meu nome em primeiro lugar em qualquer homenagem que faça.

ESPN: Você e o Gobbi são amigos hoje ainda?

Luis Alvaro: Gosto muito dele. É um sujeito simples. Gente como a gente e sério. Não acho que tem pilantragem.

ESPN: E na eleição do Santos, pretende apoiar alguém?

Luis Alvaro: Se você me perguntar hoje, com os candidatos que vi por aí, vou ficar de fora. Nenhum merece o Santos ou tem competência para dirigir um clube como o Santos.

ESPN: Quem você indicaria para presidir o Santos?

Luis Alvaro: Álvaro de Souza. Tem uma carreira profissional brilhante, chegou a presidente do Citibank no Brasil e do Citibank Internacional em Nova York. Seríssimo. Não admite sacanagem. E tem alto nível para falar com o presidente da Fifa numa boa, como eu falei com o Blatter. O Álvaro é respeitado mundialmente. Um grande, senão o maior, homem de negócios. Não é um sujeito que tem repentes de paixão, como outro fantástico amigo meu, brilhante como o Álvaro, mas que é muito passional, o Walter Schalka. Ele perde as estribeiras às vezes.

Nota da reportagem: Álvaro de Souza e Walter Schalka - atualmente presidente da Suzano Papel e Celulose - eram membros ativos do Grupo Guia (Gestão Unificada de Inteligência e Apoio ao Santos Futebol Clube), conselheiros e empresários endinheirados responsáveis por investir no clube por meio da Teisa (Terceira Estrela Investimentos S.A), que chegou a possuir parte dos direitos de Neymar.

ESPN: E um ex-jogador com história vencedora no clube, não?

Luis Alvaro: Não. Tem que ter malícia. No futebol tem muita sacanagem, muita gente falsa.

ESPN: Você conheceu mais gente falsa que amigos no futebol, portanto?

Luis Alvaro: Conheci mais gente falsa. Amigos são poucos. Citei alguns. Alguns que não ponho a mão no fogo, mas não posso dizer que são meus inimigos. Nunca fizeram sacanagem comigo nem com o Santos, pelo contrário, sempre que o Santos precisou ajudaram. Exceto o filho da p... do Dalton Menezes. Dalton não, Mano Menezes. Eu chefiei a delegação dele e ele me disse que ia dispensar o Neymar para jogar contra o Corinthians. Na última hora, não dispensou.

ESPN: E não te ligou para avisar?

Luis Alvaro: Me ligou e disse: 'não tem negócio, não vai e pronto'. Isso depois de falar que ia liberar. Sujeito falso. Como também não faço questão de ver o Luxemburgo. Embora outro dia tive de passar pelo constrangimento de sentar na mesa de jantar ao lado dele, pois fui homenageado por um veículo como melhor dirigente esportivo e ele foi escolhido como melhor técnico. Tive esse constrangimento de sentar ao lado dele.

ESPN: Cumprimentou?

Luis Alvaro: Cumprimentei. Ele disse que se arrepende de ter tomado posição partidária na minha eleição, pois técnico é funcionário e deve ficar fora do jogo eleitoral. Ele é pernóstico. Falava que tem uma das três melhores coleções de vinho tinto do Brasil, só perde para o Abílio Diniz e para o presidente do Criciúma. E se acha lindo. 'As mulheres me adoram. As mulheres se jogam no meu pé'. Eu detesto gente convencida. Prepotente. Comigo isso não funciona.

Nota da reportagem: Vanderlei Luxemburgo deixou o Santos no fim de 2009, após eleição de Luis Alvaro, pois era declaradamente a favor de Marcelo Teixeira na presidência do clube.

ESPN: E entre os jogadores?

Luis Alvaro: Edu Dracena. Esse é maravilhoso. Léo, maravilhoso. Geovânio, maravilhoso. E me orgulho de ter segurado ele de graça. Em um belo dia o Nei Pandolfo - por quem eu não ponho a mão no fogo - chegou na minha sala com contrato para assinar. O contrato era de cessão e encerramento do contrato dele, que vencia em alguns meses, e iríamos ceder os direitos ao Acadêmico de Coimbra. Eu tinha visto ele jogar duas partidas pelo titular entrando no segundo tempo. E fiquei impressionado com a velocidade, elasticidade dele. Pensei que teria futuro. E falei 'pô, de graça? De graça como? Ninguém dá de graça quando queremos contratar. Esse moleque tem futuro e será titular do Santos'. E assim aconteceu. Como o Gabriel. Hoje só não joga o que joga por causa do Oswaldo de Oliveira. Prende demais o time

ESPN: Acha que foi uma vergonha perder a final para o Ituano?

Luis Alvaro: Fui de ambulância com médico e oxigênio para Santos assistir ao jogo. E acho que foi tão vergonhoso quanto em 1955, quando vi meu time pela primeira vez ser campeão jogar no Pacaembu em uma manhã de domingo quente e perder para a Portuguesa de 8 a 0. E o Santos foi campeão mesmo assim. Acidentes fazem parte da magia no futebol. Às vezes nos deixam arrasados, em outras vezes nos deixam eufóricos.

Nota da reportagem: No dia 13/11/1955 o Santos levou 8 a 0 da Portuguesa, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista. Mesmo assim, foi o campeão daquele ano.

ESPN: Com as novas Arenas de Corinthians e Palmeiras, o Santos fica para trás dos rivais?

Luis Alvaro: Claro. Tinha que ser feito um projeto da prefeitura de contratar a reforma no Pacaembu e o Santos mandar jogos aqui, e uma parte, 20% dos jogos, na Vila. Tiraria o ônus da prefeitura, o custo mensal fixo, geraria receita que o Santos pagaria uma parte da renda e geraria outra. Para os santistas de Santos não se sentirem o filho esquecido também poderia fazer alguns jogos em Santos, especialmente contra o Corinthians. A média de público na Vila é ridícula. Colocamos 31 mil no domingo de Carnaval contra time do interior no Pacaembu, contra um timinho lixo. Eu estava lá.

Nota da reportagem: O Santos venceu o Rio Claro no dia 14 de fevereiro de 2010, um domingo de Carnaval, por 2 a 1, no Pacaembu, com público de 32.001 pessoas.

ESPN: Para finalizar, quer mandar um recado ao torcedor santista que ainda torce por você?

Luis Alvaro: O futebol é um esporte fascinante, pois é uma sucessão de alegrias e tristezas. De sucessos e fracassos. E quando o árbitro apita o início da partida, tanto você pode tomar uma goleada como pode dar uma goleada. E é esse mistério do desconhecido que faz o futebol atrair as multidões que atrai no mundo todo. É o esporte mais popular do mundo. Fui presidente do Santos e tive a sorte de ter sido o segundo presidente do clube em 100 anos que mais títulos ganhou. Só perco para o Athiê Jorge Cury, com muita honra, que ficou 23 anos e eu fiquei só três anos. E ele tinha um cara chamado Pelé. Para mim é razão de orgulho que vou morrer com coração feliz e em chamas. E aos torcedores vai ser uma tarefa difícil para o Santos nos próximos dois anos. Até que aparecerá em dois anos um santista que tenha experiência administrativa. Credibilidade. Seriedade. E que seja capaz de montar uma equipe que leve 11 jogadores jovens para ganhar as partidas.

O Santos não pode ficar na defesa. Lembro que o Neto (Armênio, ex-gerente de marketing) levou dois anos o título de melhor marketing esportivo do Brasil quando fui presidente. Ele senta com a Dilma Rousseff e fala de igual para igual. O Vella (Luiz Fernando, ex-gerente de patrimônio) é especialista em estádio contratado pela CBF e FPF, profissional fantástico. O Arnaldo Hase (ex-gerente de comunicação), uma razão de muito orgulho para mim. Fui eu que o convidei. Fazíamos parte de um grupo chamado Alçapão Virtual, com correspondentes no Brasil todo, chamávamos árbitro de vagabundo, era papo de cerveja no computador. E muitos da minha equipe eram originários do Alçapão Virtual, inclusive o Arnaldo Hase. Tinha pouca experiência como jornalista, quase nenhuma expressão na grande mídia, editava o Diário da Câmara de Ponta Grossa. No entanto, criativo e inteligente o suficiente para montar uma série de estratégias na comunicação do Santos. O Santos teve espaço todos os dias nos jornais. Nosso jornal eletrônico virou o segundo do mundo. Infelizmente ele foi para o Palmeiras, que agora está subindo. Você demite um cara leal, honesto, para vê-lo ir para um rival e alcançar uma performance como essa em poucos meses? Não é uma postura muito inteligente.

Nota da reportagem: Arnaldo Hase assumiu a TV Palmeiras em janeiro deste ano.

Em tempo: A reportagem tentou entrar em contato com o pai de Neymar e o presidente Odílio Rodrigues para direito de resposta, mas não conseguiu até a publicação da matéria.

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