A profissão de sapateiro remonta a tempos ancestrais, quando o calçado começou a ser produzido com maestria e dedicação. Ao longo da história, esses habilidosos artesãos desempenharam um papel crucial na fabricação, reparação e preservação dos calçados. No entanto, com o avanço da produção em massa e a invasão da tecnologia, a profissão de sapateiro tem enfrentado dificuldades inimagináveis.
Desde os primórdios, os sapateiros meticulosamente cortavam o couro, costuravam as partes, moldavam as solas e criavam verdadeiras obras-primas personalizadas para cada cliente. Suas mãos hábeis transmitiam anos de tradição e habilidades transmitidas de geração em geração.
No entanto, com a chegada da Revolução Industrial no século XVIII, o cenário mudou radicalmente. As fábricas tomaram conta da produção em larga escala, utilizando máquinas e técnicas eficientes, reduzindo assim a demanda pelos serviços artesanais dos sapateiros. Muitos desses profissionais talentosos foram forçados a abandonar suas bancadas e se adaptar a novas funções nas linhas de produção.
Mas, as dificuldades não pararam por aí. Nos últimos anos, a profissão de sapateiro foi desafiada por um mercado inundado de calçados baratos e descartáveis, frequentemente produzidos em países com mão de obra barata. Os materiais sintéticos e os calçados prontos para uso conquistaram o coração dos consumidores, deixando os sapateiros à margem da sociedade moderna.
Entretanto, em meio a essa tormenta, alguns sapateiros audaciosos decidiram resistir. Eles buscaram adaptar-se às mudanças, ampliando seus serviços para incluir consertos de bolsas, malas e outros artigos de couro.
Apesar de todas as adversidades enfrentadas ao longo dos anos, a profissão de sapateiro não está extinta. A necessidade de reparos minuciosos e restaurações de qualidade ainda existe, apesar de ser uma demanda menor. Os consumidores que buscam produtos personalizados, sustentáveis e duráveis encontram nos sapateiros uma solução única para seus calçados desgastados.
O caminho pode ser árduo, mas, alguns sapateiros continuam a enfrentar o desafio do tempo e da tecnologia, criando um legado no cuidado com os pés que pisam o mundo.
Orleis José de Mesquita, 62 anos, trabalha como sapateiro há 45 anos. Ele é dono da Sapataria Mesquita, em Várzea Grande. Natural de Goiânia, começou a trabalhar com sapatos desde criança, como ajudante na fábrica do irmão mais velho. Com os oito irmãos no ramo de sapatos, se mudaram para Várzea Grande, após alguns anos para expandir o negócio.
O irmão mais velho de Orleis, abriu uma loja na avenida Couto Magalhães, onde trabalhou com os irmãos por muitos anos, e abriu mais 3 lojas pela cidade. Contudo, houve dificuldades que fizeram a empresa chegar ao fim, devido, principalmente, problemas para adquirir materiais e mão de obra qualificada.
Orleis explicou em entrevista exclusiva ao , que a maior dificuldade que enfrentou e ainda enfrenta é a falta de material na região. De acordo com ele, as lojas que vendiam materiais para sapateiro, acabaram mudando de ramo e mudando para empresas de ferragens, o que ficou ainda mais difícil para o ramo de sapataria.
“Meu irmão tinha muito funcionário, mas chegou um tempo que não valia mais a pena. Começou a faltar mão de obra e material para fabricar os sapatos, então ele acabou fechando. A cidade é ótima, mas para fabricar calçado não serve. As lojas vendem material acabaram passando para empresas de ferragens, e quando tem material, acaba muito rápido. Chega de manhã, e de tarde, no mesmo dia, já acabou”, explicou.
Além do material, o sapateiro destacou que a falta de mão de obra é uma das principais causas que está tirando a profissão do mercado. Orleis disse ao , que os jovens não têm interesse na profissão, e por isso é muito difícil ensinar alguém a fazer os calçados.
Ele também explicou que as lojas pequenas estão perdendo espaço para as grandes fábricas, mas, que, com isso, perdem também os profissionais. Conforme ele, quem trabalha com sapatos, atualmente, só sabe fazer uma parte, pois é assim que funciona nas fábricas.
“A profissão está saindo do mercado, poucos lugares tem, ainda, alguém que trabalhe com isso manualmente. Aqui em Várzea Grande, de todos os meus irmãos que trabalhavam, ficou apenas eu. Da família tem meu sobrinho e meu primo que ainda trabalha com calçado, mas é só conserto”, disse.
Ao , o sapateiro revelou que faz calçado, chinelos, quando está desocupado, visto que a escassez de material prejudica a fabricação, e o valor não compensa. Segundo ele, é melhor trabalhar com consertos, porque é mais rápido, menos trabalho e acaba rendendo mais.
“Aqui eu faço de tudo, eu conserto sapato, mas também faço do zero. Corto o couro, costuro, faço a sola, a correia, colo. Mas isso é algo que faço quando estou desocupado, porque gasta muito e não tem material, não vale mais a pena”, afirmou.
Orleis contou que criou os quatro filhos e mais dois enteados com o dinheiro da sapataria. Segundo ele, apesar das dificuldades, gosta muito de trabalhar com o que faz e sente orgulho da profissão. Ele afirmou que sapateiro está perdendo o lugar e a profissão não irá durar muito tempo, por conta do desinteresse e das grandes empresas. O sapateiro também destacou que mesmo com a falta de material, ele sempre teve muitos clientes em Várzea Grande que valorizam a profissão.
“Eu tenho quatro filhos. Criei todos com o sustento da sapataria, criei todos na sola, na cola, sustento até hoje. Apesar das dificuldades, a sapataria é ótima. Eu gosto do que faço. Mas, infelizmente, não compensa mais. Em outras cidades até tem material, mas aqui em Mato Grosso não tem condições. É tudo muito caro”, finalizou.
A Sapataria do Mesquita está situada a rua Manaus, número 12 - Nova Várzea Grande, em Várzea Grande.
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