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Cidades Sexta-feira, 04 de Dezembro de 2020, 13:45 - A | A

Sexta-feira, 04 de Dezembro de 2020, 13h:45 - A | A

Descaso

Esquecidas pelo Poder Público, famílias ocupam residencial em VG e vivem situação de vulnerabilidade

Edina Araújo & Gislaine Morais/VGNotícias

Lixo acumulado, pneus jogados a céu aberto, falta de água para necessidades básicas, gambiarras para garantir energia elétrica, assim vivem mais de mil famílias que ocupam o Residencial Colinas Douradas, em Várzea Grande, em total esquecimento do Poder Público.

A reportagem do oticias esteve in loco no Residencial, na última segunda (30.11), e ouviu o clamor das mães, que além do temor de serem despejadas a qualquer momento, temem pela saúde das mais de duas mil crianças que estão vivendo em total vulnerabilidade.

O Residencial foi ocupado em 09 de setembro deste ano, e atualmente 1.100 famílias residem, ilegalmente, na moradia popular. A Caixa Econômica ingressou com reintegração de posse do imóvel, e o juiz federal determinou a desocupação imediata do residencial em 30 de outubro, contudo, até o momento as famílias permanecem no local.

Em 08 de novembro, quase dois meses após a ocupação do Residencial, ocorreu uma tragédia no local. O jovem Wederson Carlos da Silva, 20 anos, que morava com a mulher, foi assassinado, e, segundo moradores, supostamente por um agente prisional contratado da empresa Multfort que prestava serviços à Caixa Econômica para evitar que os moradores entrassem com mudanças no condomínio. Porém, após o assassinato, a empresa retirou os seguranças e a guarita ficou liberada e os ocupantes levaram suas mudanças.

Nesses quase três meses de ocupação, o condomínio está tomando pelo lixo. Segundo relato de moradores, o caminhão de coleta nunca passou no local. “Esse lixo todo deixa o ambiente fedido, atrai muitos pernilongos e mosquitos. Estamos vivendo em um lugar insalubre, correndo o risco de pegar uma doença”, desabafou a moradora.

As gambiarras nas instalações de energia chamam atenção. Fiação expostas no chão e nos postes para as casas. São fios por cima, pelas paredes e até mesmo esparramados pelo chão.

Em conversa com uma moradora, ela contou que há poucos dias teve um curto circuito de grande proporção, e acabou deixando todas as famílias no escuro. “É muito perigoso, é arriscado, pois no local as crianças andam descalças para cima e para baixo. É muito ruim viver nessa insegurança, viver com esse medo. Pode causar danos irreparáveis”, disse ela.

As gambiarras não se limitam para levar energia nas residências, mas para ligar os ares-condicionados e outros aparelhos de eletrodomésticos em muitas casas, inclusive, próximo ao meio dia, eles estavam ligados.

Naiara, uma das moradoras do Residencial relatou ao oticias que não gostaria de viver nesta situação, viver desta maneira, mas, segundo ela, estar desempregada e ser mãe solteira pesaram na decisão. De acordo com ela, já tem anos que faz as inscrições destas ‘casinhas’, mas nunca foi contemplada, ficando seu nome só na lista dos pré-aprovados.

“Tenho seis filhos, sendo uma criança prematura em casa, sou desempregada, mãe solteira e o dinheiro que ganho mexendo com uma coisa aqui e outra ali não dá para pagar aluguel. Aí tenho que escolher se coloco na boca ou pago aluguel”.

Após a liberação da guarita, os moradores estão comprando água de caminhão-pipa - e algumas famílias têm até caixa d’água de 500 litros e tentam se virar como podem.

Uma moradora contou que o caminhão-pipa cobra conforme o tamanho da caixa d’água: 200 litros custam valor R$ 20, de 150 litros R$ 15 reais e assim por diante.

“Eles ficam o dia todo aqui no condomínio, mas algumas vezes não conseguem abastecer todas as famílias, pois são muitas pessoas né. Nós temos que comprar todos os dias uma caixa, pois usamos essa água para tomar banho, lavar roupa e limpar a casa. Tem famílias com seis ou mais crianças, então elas precisam de uma quantidade maior de água. Mas às vezes também não temos nem dinheiro para comprar”.

Outras mudanças realizadas no condomínio foram em relação à abertura de alguns comércios no local, como mercearia, ‘baguncinhas’ e até uma marmitaria. Além do comércio, tem uma Igreja Assembleia de Deus, e está sendo aberta uma academia de capoeira.

O que chamou atenção da reportagem é o preço que é cobrado na mercearia que funciona no Residencial. O garrafão de água que na mercearia ou supermercado fora do condomínio custa R$ 6, lá dentro é cobrado R$ 9.

Outro lado - A reportagem do oticias conversou com a secretária de Assistência Social do município, Flávia Lanes, para saber quais providências a pasta poderia tomar em relação ao estado de vulnerabilidade das famílias e principalmente das crianças. A gestora afirmou que por se tratar de uma ocupação ilegal, a Secretaria não pode interferir. No entanto, ela afirmou que as famílias que procurarem ajuda diretamente na Secretaria, são acompanhadas e se constatado in loco a situação de vulnerabilidade, a Secretaria ajuda com cestas básicas e demais providências cabíveis.

“Como ali está judicializado não podemos adentrar nesse Residencial enquanto não estiver legalizado. As famílias que nos procuram e relatam situação de extrema vulnerabilidade com o pedido de alguma ajuda isso nós estamos atendendo. Vai à equipe técnica até o local e verifica a situação daquela família. Como eu sempre digo, nós não vamos deixar ninguém em situação de fome ou coisa parecida, só porque não podemos entrar ainda”, declarou a secretária.

Flávia não soube precisar o número, mas garantiu que muitas famílias do Residencial Colinas Douradas têm procurado à Assistência Social nos últimos meses.

A reportagem do oticias conversou ainda com o secretário de Serviços Públicos e Mobilidade Urbana, Breno Gomes para saber sobre a questão da coleta de lixo. “Lá tem pedido de reintegração de posse pela Caixa Econômica Federal. O município não pode prestar serviços públicos nesses casos”, respondeu Breno.

 
 
 
 
 
 
 
 

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