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Artigos Sexta-feira, 07 de Abril de 2017, 10:48 - A | A

Sexta-feira, 07 de Abril de 2017, 10h:48 - A | A

opinião

Um cavalo paraguaio?

                                                                                                                                                  por Eduardo Mahon *

João Doria é um fenômeno. Por diversas razões: 1) o desprezo com a mediação política tradicional; 2) a imagem de empresário autossuficiente; 3) a ficha limpa; 4) a objetividade; 5) a diálogo direto com a população, via redes sociais.

Ninguém é perfeito e, portanto, Doria já demonstra problemas conceituais logo nos primeiros meses de governo, ainda que tenha imposto a mentalidade de iniciativa privada na administração pública.

Meu primeiro apontamento sobre esse fenômeno do político-espetáculo é o mais preocupante: o prefeito de São Paulo parece querer se manter longe da política, ainda que esteja atuando como político. Portanto, não consulta o legislativo para implementar suas iniciativas personalistas, seus flashes administrativos transmitidos em tempo real.

Parece que não precisa, que é dispensável ouvir uma classe que está historicamente identificada com o tradicional clientelismo. Não é. Trata-se de um modelo atraente, mas que pode reforçar uma percepção generalizada de que a mediação política não é tão essencial assim.

Às críticas, Doria responde com fatos: reclamam de uma promiscuidade entre o poder público e a iniciativa privada? Dória exibe doações milionárias em favor do povo. Denunciam que empresas estão de olho em futuras licitações do governo tucano? Dória demonstra que não há relação entre as doações e os contratos futuros. Reclamam da privatização camuflada da saúde municipal? Dória emplaca manchetes positivas com o fim das filas para exames e procedimentos médicos.

Portanto, trata-se de uma nova forma de teatro político, onde o ator retira as cortinas, desmonta o tablado e, de quebra, ganha novas poltronas de presente. Tudo rápido, para ontem. Tudo emergente, tudo fácil, tudo dinâmico e igualmente sem planejamento macro. O cidadão – que não está preocupado com questões conceituais de fundo – aplaude.

Será ele o beneficiário do exame médico mais rápido, do novo banheiro público, do tablet distribuído gratuitamente. O cidadão quer uma vitória, quer se orgulhar do próprio voto, quer enfim uma vantagem concreta sonegada por toda uma vida. Além do mais, quem não gosta de um bom espetáculo? Pois bem. Doria encarna tudo isso e mais um pouco.

João Doria é um comunicador nato. Entende que o “tempo privado” é completamente diferente do “tempo público”. Está certo ao perceber essa enorme discrepância. Na iniciativa privada, não há as amarras legais impostas pela legislação ao administrador público. o percurso de um processo licitatória está completamente descompassado aos desejos dos cidadãos, às necessidades e às próprias características da comunicação contemporânea.

Como profissional da área, o prefeito de São Paulo sabe que é preciso compartilhar, em tempo real, a própria vida. O que ele está fazendo hoje? O que está comendo? Com quem está se reunindo? A demanda ininterrupta por informação, faz do executivo clássico um ator, penteado, maquiado e trajado por figurinos que precisam variar, mas sem sair do convencional. A superficialidade é evidente, na medida em que as respostas de Doria são imediatistas, não são debatidas no legislativo e tampouco são frutos de debate com segmentos especializados.

Por isso, estou preocupado com a culminância do espetáculo que redundou no atraente, bem-falante, refinado e articulado João Doria. Como sabemos que não há nada de novo sob o sol, é possível que esse ritmo frenético de felicidade diária acabe em desencanto. O desprezo pela classe política me causa séria desconfiança. De Marechal Deodoro a Jânio Quadros, já conhecemos “políticos que não gostam de políticos”, um espécime estranho, mas que não é propriamente uma novidade.

De outro lado, o relacionamento informal com o empresariado pode levar a situações embaraçosas, na medida em que o ineditismo dessas doações em massa transforma-se numa recauchutada forma de contratações viciadas. Nunca vi um almoço de graça. Esse slogan de "empresa cidadã" é popular, mas não dá lucro.

Administrar não é fácil, não é mágica, não é festa e não é marketing. Mas... o nosso tempo é tão imediato que lançaram João Doria à presidente. Nada mais natural. Queremos resolver problemas e gostamos de quem os resolva.

O discurso do “administrador” é extremamente compatível com o que vemos na iniciativa privada, onde casos de sucesso deveriam ser transplantados para o poder público. De início, o povo aplaude quem se propõe a montar uma “equipe técnica” como se fosse resolver todos os problemas pelo preparo acadêmico. Infla a vaidade do que se apresenta como “uma alternativa nova”.

Sabemos, porém, que na administração pública a experiência é tão importante quanto a honestidade. Ainda no ritmo acelerado, Doria avisou que não concorrerá à reeleição. Portanto, se quiser continuar na política, deve tentar um voo vertical, sem experiência administrativa decantada.

Viver nesse ritmo pode gerar um cansaço no eleitor que é, também, um espectador, além de cansar a si mesmo e perder o fôlego antes da hora como é conhecido o “cavalo paraguaio”. Quero e torço que ele acerte, mas temo que o ego de Doria seja o pior adversário dele mesmo.

*Eduardo Mahon é advogado

Brasil unido pelo Rio Grande do Sul

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