por Daniel Almeida de Macedo*
Em 2016, a sequência de atentados terroristas registrados na Europa e nos Estados Unidos foi o substrato para o posicionamento político de diferentes grupos, que, enfim, obtiveram aprovação nas urnas a partir de plataformas racistas e xenófobas. Esse fenômeno da ascensão de partidos com mensagens absolutamente contrárias aos valores assumidos pelo projeto de construção das democracias ocidentais, como a diversidade, a cooperação e a tolerância segue sendo muito atual, e agora abrange novos países. Se antes o medo gerado pelos ataques jihadistas à população era aproveitado para impulsionar comportamentos conservadores na Europa e nos Estados Unidos, hoje, essa estratégia da extrema-direita se espalhou e se fortaleceu por outros países do mundo e abarca um conjunto ainda maior de medos e aversões. Uma verdadeira miscelânea de plataformas constitui a retórica da ultra-direita, e no Brasil isso não é diferente. Autoritarismo, enaltecimento do uso da força, moralismos e nostalgias variadas compõem essa agenda. Basta perceber que a quantidade de mensagens com conteúdo político-extremista transmitida via redes sociais em nosso país é impressionante.
Primeiro, a retórica contra a imigração e contra a integração comunitária europeia levou a maioria dos eleitores ingleses a decidir, em junho de 2016, a favor do Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia. Apenas um ano depois, na França, a candidata de extrema direita Marine Le Pen terminou a eleição presidencial em segundo lugar, com 34,5% dos votos, um resultado considerado um marco para o conservadorismo europeu. Nas eleições na Alemanha, que ocorreram recentemente, em 24 setembro, a legenda eurocética e anti-imigração intitulada Alternativa para Alemania (AfD) perdeu o pleito mas recebeu na eleição 12,6% dos votos, tornando-se a terceira força do parlamento, uma marca histórica. A Alemanha viu pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, um partido de extrema-direita conquistar o direito de ter representantes no parlamento. Agora, dia 15 de outubro na Áustria, mais um resultado eleitoral sugere que a ascensão da extrema-direita está se tornando algo natural. O Partido da Liberdade (FPO) obteve surpreendentes 26,8% dos votos. Todo esse avanço da extrema direita europeia ocorre na esteira da eleição do republicano Donald Trump para a Casa Branca. Com um discurso sexista, xenófobo e belicista, Trump parece ter liberto definitivamente o ideário conservador e impulsionado sua agenda em todo mundo.
O professor Carlos Gustavo Poggio, da PUC de São Paulo, observa que o liberalismo, o conservadorismo e o socialismo, as três importantes tradições políticas no ocidente, todas elas possuem versões que se encaixam dentro da lógica democrática moderna. Mas as variações extremistas dessas tradições tendem a se afastar das regras democráticas que conhecemos. No caso da extrema-direita, na forma como é usada no vocabulário político atual, podemos entender como uma versão extremada do conservadorismo, que pode ser mais bem classificada como reacionária.
A esquerda parece estar em franco declínio político em todo o mundo e no Brasil essa realidade se reproduz. Mas não há razões para comemorar esse desequilíbrio. Mesmo aqueles que se identificam politicamente com uma agenda política mais à direita, mas são civicamente engajados, podem vislumbrar que essa assimetria não será benéfica para o debate plural e democrático. "Assim como o ferro afia o próprio ferro, as pessoas aprendem umas com as outras", Provérbios 27 17.
Daniel Almeida de Macedo é Doutor em História Social pela USP
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