por Paulo Henrique Azevedo*
Para os brasileiros, a Copa do Mundo de 2014 ficou marcada pelo trauma da humilhação sofrida em casa contra a Alemanha (7-1), mas os estragos vão muito além do aspecto esportivo.
Com estádios abandonados e projetos de infraestrutura não concluídos, o país desperdiçou valores astronômicos do erário público.
Quando o país mais vezes campeão mundial foi escolhido para sediar a competição, em 2007, os torcedores sonhavam em costurar uma sexta estrela em sua camisa e as autoridades haviam prometido que os estádios seriam financiados em grande parte pelo setor privado.
O país estava em plena expansão econômica, o que também lhe permitiu obter, dois anos depois, a organização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016.
Mas o Mundial custou muito mais do que o esperado, 27 bilhões de reais, contra 17 bilhões anunciados inicialmente.
Apenas 7% dos 8,3 bilhões de reais destinados à construção ou reforma de 12 estádios saiu diretamente do setor privado.
Ao levar em consideração os créditos de bancos públicos, as empresa e os clubes que participaram nas obras, que supostamente estão sendo reembolsados, o percentual sobe para 17%.
– Obras abandonadas –
“O legado da Copa de 2014 é negativo dada a amplitude do projeto. O investimento foi muito além do previsto e o volume do que foi realizado ser muito aquém do que foi planejado”, lamentou Paulo Henrique Azevedo, diretor do Gesporte, grupo de estudo sobre gestão esportiva da Universidade de Brasília (UnB).
“Muitos projetos de mobilidade urbana em várias cidades não só não foram concluídos, como foram totalmente abandonados”, completa.
Reformas de estradas, aeroportos, projetos de metrô: dezenas de obras jamais viram a luz do dia.
Para os Jogos Olímpicos de 2016, o então prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, criticou duramente o legado do Mundial de 2014.
“A Copa do Mundo foi marcada por obras não concluídas, estádios muito grandes, que muitas vezes viraram elefantes brancos, diante da falta de investimento privado”, disse Paes, que prometeu outro cenário para a Rio-2016.
Mas atualmente as instalações do Parque Olímpico são subutilizadas.
Das 12 cidades que receberam partidas da Copa do Mundo, o Rio foi a única que concluiu as obras de transporte planejadas, fundamentalmente porque foram incluídas no projeto dos Jogos Olímpicos.
Mas boa parte das obras foram concluídas antes das Olimpíadas e não para o Mundial da Fifa.
Paulo Henrique Azevedo considera que o Brasil pagou caro por ter optado pela “construção de muitos estádios, por razões políticas”, para atender aos líderes políticos locais.
Alguns estádios foram construídos em cidades que não possuem equipes de alto nível – Manaus, Cuiabá ou Brasília – e onde a presença de torcedores é pequena.
– Imaginário coletivo –
Tudo isto sem considerar os escândalos de corrupção que afetaram as obras, em sua maioria superfaturadas.
“Alguns dirigentes pouco escrupulosos se beneficiaram da amplitude faraônica dos projetos para cometer uma série de atos ilegais” destacou o professor.
Para a reforma do Maracanã, palco da final da Copa em que a Alemanha venceu a Argentina por 1-0, o cimento custou o triplo do preço de mercado, segundo um relatório do Tribunal de Contas.
Em 2012, o ex-jogador e atual senador Romário advertiu que a Copa no Brasil seria “o maior roubo da história”.
A derrota para a Alemanha foi uma grande humilhação para um país que pretendia jogar para segundo plano todas as polêmicas em caso de título.
“No imaginário coletivo, a humilhação por 7 x 1 se sobrepôs a todos os erros que o Brasil havia cometido na organização desse Mundial”, afirmou Rodrigo Mattos, jornalista esportivo, em seu livro “Ladrões de Bola”, de 2016.
Mas nem tudo é de se jogar. Apesar do psicodrama que cercou os atrasos na construção dos estádios, a Copa do Mundo aconteceu sem grandes problemas, em uma atmosfera festiva que marcou os espíritos.
Este sucesso também deu ao país confiança para a organização dos Jogos Olímpicos, que também foram bem-sucedidos.
Mas desde então, o Brasil mergulhou em uma recessão histórica e o turismo também se viu afetado pelo ressurgimento da violência, que mancha ainda mais o legado desses grandes eventos esportivos.
*Paulo Henrique Azevedo é diretor do Gesporte, grupo de estudo sobre gestão esportiva da Universidade de Brasília (UnB)
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