Fábio José de Melo Silva, conhecido como Padre Fábio de Melo, 52 anos, participou do programa Conversa com Bial nessa sexta-feira (27.10) para falar sobre o lançamento de seu livro "A Vida É Cruel, Ana Maria: Diálogos Imaginários Com Minha Mãe". Durante a conversa, ele compartilhou sua experiência pessoal, incluindo o falecimento de sua mãe devido à Covid-19 em março de 2021.
O padre destacou a intensa dor que sentiu com a perda de sua mãe e como, em um momento, considerou desistir, mas escolheu encontrar a força para seguir em frente. Ele compartilhou a sensação de libertação que sentiu após enfrentar a finitude da vida de sua mãe.
"Sempre que pensava na morte da minha mãe, eu sabia que seria o pior dia da minha vida. Então eu vivi de fato o pior dia da minha vida. E quando eu vivi a experiência definitiva daquela finitude com ela, da minha relação com ela, vivi uma libertação também. Eu agora posso morrer. Vi minha mãe sepultar duas filhas, vi minha mãe visitar durante quatro anos um filho preso e eu sabia o quanto ela vivia o sofrimento de todos nós. Quando ela morreu foi a primeira coisa que pensei: 'pronto, agora se eu não quiser ser feliz, eu não preciso mais'. Claro, não é a minha opção, mas é, de fato, uma realidade que se apresentou para mim", falou o Padre.
Além disso, Padre Fábio de Melo abordou em seu livro as lutas pessoais que enfrentou, incluindo o medo de seguir os passos de seu pai, que teve problemas com o álcool. Ele alertou sobre os efeitos destrutivos do álcool em sua família e em algumas de suas pregações.
"E meu pai foi um homem que teve uma fragilidade enorme que abriu portas para as outras que foi o álcool. O meu pai alcoolizado era um homem completamente diferente do homem sóbrio que nós tínhamos no dia a dia. Meu pai era um homem lindo, íntegro, de nobreza de alma. Só que quando ele bebia... É uma coisa que insisto muito como padre nas minhas pregações. O álcool destruiu a minha casa, continua destruindo, pois ainda é um problema na vida de alguns irmãos. É genético, não tenho dúvida disso. Se eu me concedesse o direito de beber de vez em quando eu tenho medo de me transformar no meu pai", disse.
Fábio de Melo cresceu em meio a dificuldades e uma família desestruturada, mas enfatizou que escolheu não se considerar uma vítima dessas circunstâncias, buscando juntar os pedaços de sua vida e seguir em frente.
"Eu não tive tempo de ser criança. Já romantizei muito. Eu acho que hoje não tenho mais disposição para romantizar nada. A minha família não deu certo em muitos aspectos e nem por isso eu dei errado. Eu não sou um desastre como pessoa, procuro ajuntar os pedaços, mas eu tive uma família super desestruturada, extremamente difícil, para os meus irmãos também não foi fácil. E hoje eu preciso lidar com as memórias que não são boas sem que isso me transforme em uma vítima. Esse papel eu também não aceito, não quero"; concluiu o padre.
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