O medo da gripe A está causando correria em busca da vacina no Rio Grande do Sul. Nas cidades do interior, longas filas têm se formado. Alguns moradores viraram a noite na espera pela dose gratuita e há registros de tumulto e intervenção da polícia.
O Estado, onde 23 pessoas já morreram devido à doença neste ano, recebeu 800 mil doses extras da vacina. Em toda a região Sul do país, segundo o Ministério da Saúde, já são 69 mortes.
A campanha do governo federal deste ano previa a vacinação de grupos restritos, como gestantes e idosos.
Agora, mesmo com as doses extras não há vacinas para todos no Estado. Assim, os municípios definem seus critérios de prioridade.
Ontem, em Santa Rosa (a 486 km de Porto Alegre), a vacina foi aplicada por ordem de chegada. A fila começou a se formar anteontem para a distribuição das 9.000 doses.
Situação pior ocorreu na última semana em Cruz Alta (a 343 km da capital). Em dois dias, 15 mil doses foram aplicadas. Houve confusão e até casos de venda de lugares na fila. A polícia foi chamada para evitar tumultos. Escolas municipais anteciparam as férias como precaução.
Em Carazinho (a 285 km de Porto Alegre), o lote extra acabou em poucas horas ontem. O secretário municipal de Saúde, Mauro Mazzutti, afirma que alguns moradores fizeram "plantão desde as 4h" pela aplicação.
"Tinha gente muito afoita, desesperada e causando pânico no resto da população."
Na região de Santo Ângelo (a 434 km da capital), o Ministério Público recomendou a 83 prefeituras que vacinem prioritariamente crianças de até 12 anos. A medida não tem poder de lei, mas já começou a ser seguida nos municípios.
COBRANÇA
Na rede particular, as doses custam a partir de R$ 50, mas estão em falta no RS.
Na semana passada, a federação de municípios cobrou do Estado doses para todos. O sindicato dos professores também pediu a vacinação de todos os estudantes.
Para o ministério, não há como vacinar toda a população. Segundo o último balanço, já houve 1.099 casos da doença, com 110 mortes neste ano no país.
USO INDISCRIMINADO
Para o diretor do departamento de vigilância e doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, não haverá uso indiscriminado do medicamento Tamiflu com a liberação da venda sem retenção da receita.
Segundo ele, nas farmácias, o remédio ainda é caro e, nos postos de saúde, há um rígido controle para a sua retirada. "Nossa preocupação é justamente o contrário. Havia uma dificuldade de acesso ao medicamento."
Ele afirma que esse pode ter sido um dos fatores que contribuíram para as mortes associados à gripe A.
Maierovitch também contesta as dúvidas sobre a eficácia do medicamento e afirma que essa classe terapêutica é a única capaz de reverter sintomas da gripe já instalados.