O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concentrou nas críticas ao governo a palestra que fez para empresários nesta segunda-feira (27) em um hotel de São Paulo, durante almoço promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais).
Cunha afirmou que anunciou o rompimento político com o governo "como reação a uma covardia", disse que não se constrangerá com "informações falsas" e não colocará a cabeça "dentro de um buraco", em referência ao fato de ser investigado na Operação Lava Jato, por suspeita de envolvimento com desvio de dinheiro da Petrobras.
"Fui vítima de uma violência com as digitais definidas. Não podia me acovardar e não reagir", declarou. Indagado pelo presidente do grupo Lide, João Dória, sobre a quem pertenciam essas digitais, respondeu: "Basicamente, foi uma interferência do Poder Executivo, que todo mundo sabe que não me engole", afirmou.
O presidente da Câmara voltou a defender a saída do PMDB da aliança partidária que elegeu a presidente Dilma Rousseff e disse que, na avaliação dele, atualmente a maioria do partido tem uma opinião contrária ao governo – na convenção que aprovou a aliança, os contrários eram 41%, afirmou.
Ajuste fiscal
Ele criticou o ajuste fiscal conduzido pela equipe econômica do governo que, segundo afirmou, leva à retração. "Quanto mais se ajusta, mais cai a arrecadação e de mais ajuste é preciso", declarou.
Cunha previu que as crises política e econômica "vão perdurar por muito tempo" e que "não é com esse ajuste que vai melhorar". Segundo ele, o desemprego para 2016 "já está contratado" – apontou como exemplo a redução dos lançamentos na área imobiliária, com consequente demissões no setor da construção civil.
Apesar das críticas e da oposição ao governo, o presidente da Câmara afirmou que não exercerá o papel de incendiário.
"Não está no nosso horizonte fazer com que este país incendeie", declarou Cunha, para quem "o que não pode faltar é bombeiro". "Pretendo manter o equilíbrio e o respeito dos que me elegeram [presidente da Câmara]", disse.
PT
O presidente da Câmara também disparou contra o PT. Ele afirmou que, para a sociedade, o partido "já baixou do volume morto” e é mais impopular do que a presidente Dilma Rousseff.
“Talvez, o PT tenha até arrastado a impopularidade dela [presidente] mais baixo do que poderia ser”, declarou.
Segundo Cunha, o fato de petistas defenderem o afastamento dele da presidência da Câmara em razão da investigação da Operação Lava Jato é motivo "de alegria".
“O PT pedindo minha destituição só me dá alegria porque se o PT pedisse minha permanência talvez eu não estivesse aqui", disse.
Reforma tributária
Cunha declarou que, depois da votação da reforma política, o próximo conjunto de propostas a ser votado pelos deputados, depois do recesso de julho, é a reforma tributária. Segundo ele, os parlamentares vão apreciar um texto elaborado por uma comissão especial que aglutinará várias propostas em tramitação na Câmara.
"Hoje, só tem três maneiras de fazer [a reforma tributária]: a União paga a conta, São Paulo perde dinheiro ou o contribuinte paga a conta. Temos de achar uma alternativa", declarou.
Protesto
Antes da palestra de Cunha, um grupo de manifestantes fez um protesto diante do hotel. Os manifestantes, integrantes do movimento Juntos, protestaram contra posições defendidas por Cunha, como a redução da maioridade penal.
"Hoje, o Cunha é declaradamente o inimigo número 1 da juventude, é o inimigo que nós vamos combater e perseguir onde ele for. Nós não vamos aceitar o encarceramento dos jovens, nós queremos mais Educação e mais direitos", afirmou a estudante Camila.
Alckmin
Após o almoço com os empresários, Eduardo Cunha foi recebido no Palácio dos Bandeirantes pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Cunha não deu entrevistas ao sair do encontro. O governador também não se manifestou sobre os assuntos tratados na reunião.
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