A Polícia Federal e o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) realizam em Goiânia, na manhã desta sexta-feira (26), um desdobramento da Operação Lava Jato, que apura um esquema de corrupção na Petrobras. O objetivo é recolher provas sobre o pagamento de proprina para a construção das Ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste, bem como prática de cartel, lavagem de dinheiro e superfaturamento.
Um mandado de busca e apreensão da operação, batizada de "O Recebedor", foi cumprido na casa do ex-presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias (empresa estatal ferroviária ligada ao MInistério dos Transportes) José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha das Neves. Além disso, ele foi conduzido coercivamente até a sede da PF, na capital, onde deve prestar depoimento.
Segundo a PF, para cometer as irregularidades na construção da Ferrovia Norte-Sul, as empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos simulados, a um escritório de advocacia e mais duas empresas sediadas em Goiás, que eram usadas para maquiar a origem do dinheiro.
A suspeita é que os desvios, somente no estado, cheguem a R$ 630 milhões. De acordo com o MPF-GO, a construtora Camargo Corrêa, que assinou um acordo de leniência para colaborar com as investigações, admitiu que pagou R$ 800 mil em proprina para Juquinha.
O ex-presidente da Valec já foi preso em julho de 2012 na Operação Trem Pagador, suspeito de lavagem de dinheiro público e enriquecimento ilícito. Em novembro de 2015, ele e mais outras sete pessoas foram denunciadas pelo MPF-GO. O prejuízo estimado aos cofres públicos é de R$ 900 mil.
Também foi cumprido o mandado de condução coercitiva e busca e apreensão contra o filho de Juquinha das Neves, Jader das Neves, e contra um advogado, ainda não identificado.
O G1 entrou em contato com o escritório de advogacia que representa Juquinha das Neves, por volta das 9h, e aguarda um retorno.
A reportagem também entrou em contato com a assessoria de imprensa da Camargo Corrêa e aguarda um posicionamento.
Operação 'O Recebedor'
Além de Goiás, no Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Ao todo, são cumpridos sete mandados de condução coercitiva e 44 de busca e apreensão no país. A ação também tem participação de representantes do MPF-GO.
Os suspeitos poderão responder por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Esse é o segundo desmembramento da Lava Jato. O primeiro foi a Operação Cratons, realizada em dezembro de 2015. Na ocasião, a PF investigou crimes ambientais e comércio ilegal de diamantes extraídos de terras indígenas da etnia dos cinta-larga, em Rondônia.
Ferrovia Norte-Sul
A Ferrovia Norte-Sul foi inaugurada no dia 22 de maio de 2014, depois de cerca de 25 anos do início das obras. O trecho entre Palmas, no Tocantins, e Anápolis, em Goiás, tem 855 quilômetros de trilhos.
Apesar da inauguração, a primeira viagem só foi feita em dezembro do ano passado. Devido à demora da obra, a Valec não soube precisar quanto de dinheiro já havia sido gasto. A estatal estimou, na época, a quantia de US$ 8 milhões. Denúncias de irregularidades marcaram a construção.
Em novembro, o MPF-GO ofereceu denúncia contra oito pessoas suspeitas de superfaturar obras da Ferrovia Norte-Sul em Goiás. Todos eles devem responder por peculato e, se condenados, podem pegar até 12 anos de prisão.
O prejuízo com cargas que deixaram de ser transportadas, perdas e impostos não arrecadados pode chegar a US$ 12 bilhões por ano, segundo a Valec.
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