O delegado do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), Hércules Batista Gonçalves, expôs, durante coletiva de imprensa referente à Operação Aqua Ilícita, uma realidade preocupante vivida pela população: o uso do assistencialismo como ferramenta de influência por facções criminosas.
Em exemplificação, Hércules comparou a estratégia adotada pelo crime organizado às práticas utilizadas por Pablo Escobar, na Colômbia, e pela máfia italiana. Seguindo esse modelo, grupos criminosos distribuem cestas básicas e outros benefícios para ganhar a lealdade da população, tornando-a aliada e dificultando as ações de combate ao crime.
Falsa sensação de segurança e bem-estar
“Na Colômbia, Pablo Escobar adotou essa estratégia e a manteve, seguindo o modelo da máfia italiana. Infelizmente, essa realidade não é diferente em Cuiabá. O assistencialismo, quando utilizado de forma indevida, prejudica a sociedade, pois acaba cooptando pessoas para a proteção do crime organizado, alinhando-as com facções criminosas”, declarou Batista.
Em diversas operações realizadas pelo Gaeco, quando mandados de prisão e apreensão foram cumpridos, houve a confiscação de cestas básicas que seriam utilizadas como ‘moeda de troca’ pelo crime organizado – prática que gera uma falsa sensação de segurança e bem-estar aos beneficiados, mascarando a verdadeira intenção da facção: expandir seu domínio sobre comunidades carentes.
A fala foi corroborada pelo coordenador do Gaeco, Adriano Roberto Alves, que explicou também que a situação passa despercebida por muitos. Há casos em que serviços essenciais foram afetados, como um caso recente em que uma fornecedora de internet teve de encerrar suas atividades devido à pressão de facções, obrigando a população a pagar o dobro pelo serviço – destacando-se que o mesmo pode ocorrer em outros setores.
“Uma fornecedora de internet teve de encerrar suas atividades devido à pressão criminosa, fazendo com que a população ficasse sem internet e, posteriormente, precisasse pagar o dobro pelo serviço”, declarou Adriano.
Outro fato preocupante, segundo o coordenador, é o ‘tribunal do crime’ oferecido pelas facções, onde uma pessoa pode denunciar – sem embasamento em provas – a conduta de outra pessoa, que, subsequentemente, recebe um ‘salve’ pelo suposto delito. Na avaliação do coordenador, por ser considerado um método “mais fácil”, a população acaba esquecendo quem de fato cumpre esse papel de proteção: o Estado. Todos têm o direito à defesa e a um julgamento justo, podendo ou não ser condenados.
“‘Ah, eu vou denunciar porque fulano fez um furto’, aí eles vão lá e dão um salve nessa pessoa. Mas e se ele não fez? Ou se um homem é acusado de bater na mulher, toma um salve, mas não cometeu a agressão? Então, o Estado está aí para oferecer proteção. Se cometeu um crime, é levado a julgamento, onde tem o direito de se defender”, explicou Roberto.
A permissividade e a aceitação do crime como parte da realidade social resultam em um ciclo vicioso, no qual o controle das facções se fortalece e os prejuízos econômicos e sociais se ampliam. “O discurso é: amanhã vai pagar mais pelo gás, amanhã vai pagar mais pela internet, amanhã vai pagar mais pela água, se isso continuar”, afirmou Hércules.
O cenário atual exige conscientização da população sobre as consequências do assistencialismo vinculado ao crime organizado – visto que, com o tempo, essas ferramentas de influência se tornam essenciais.
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