Quatro alunos de uma escola pública dos Estados Unidos foram suspensos por um ano das atividades escolares e do transporte escolar, por terem cometido bullying violento contra uma senhora de 68 anos, avó, monitora do ônibus escolar. Além disso, foram condenados a 50 dias de trabalhos comunitários com idosos e deverão ainda completar um programa de treinamento antibullying. Eles ainda terão que se desculpar com a idosa, hostilizada por eles.
O bullying cometido pelos quatro alunos tomou uma dimensão muito maior, porque foi filmado e acabou na internet, transformando-se num viral, gerando uma onda de protestos e de solidariedade à idosa, e obrigando as autoridades escolares de Greece, pequena localidade no estado de New York, a tomar uma atitude contra os alunos. A mídia entrou pesado na história, que repercutiu nos principais canais de televisão. Em três dias, o vídeo tinha mais de 2 milhões de page views.
Dois dos meninos flagrados no vídeo cometendo abusos verbais e agressivos contra a senhora, escreveram cartas dirigidas a ela lamentando o seu comportamento. Os pais de outros meninos também se desculparam.
O fato também mobilizou a solidariedade de americanos e estrangeiros a favor da monitora, com uma campanha de doações para que ela tirasse férias e descansasse. A campanha arrecadou US$ 667 mil até o dia 29 de junho. Um jovem canadense, de Toronto, de 25 anos, abriu a campanha a favor da vítima, contribuindo com US$ 5 mil.
A idosa vítima do bullying vai doar parte do dinheiro para pesquisas sobre Síndrome de Down, por ter uma dos oito netos com esse problema. Perguntada por que não reagiu, ela afirmou em entrevistas que este não é o caminho correto. Preferiu suportar as ofensas, sem se irritar. O episódio, além de mostrar que hoje nada fica oculto, porque sempre tem alguém filmando, fotografando, gravando, mostra a nova realidade das mídias sociais em que acontecimentos que poderiam passar despercebidos acabam virando tema do momento e mobilizando a população.
O bullying de maneira geral, mas particularmente contra adolescentes nas escolas, está se tornando uma das mais graves crises do ensino em todo o mundo. Não há leis específicas ainda sobre essa praga que tem levado centenas de jovens ao suicídio, ou desencadeado problemas psicológicos e traumas, marcando definitivamente suas vidas e a dos pais.
O bullying já é considerado uma crise grave pelas autoridades americanas e classificado também, no momento, pelas entidades de defesa dos direitos humanos, um problema sem solução. De Acordo com o Fundo de Defesa das Crianças, uma criança ou adolescente nos Estados Unidos comete um suicídio a cada cinco horas.
Adicionalmente, diz o Centro de Defesa e Controle e Prevenção, para cada suicídio entre jovens, há pelo menos 100 tentativas, naturalmente muitas com sequelas graves. De acordo com estudo da Universidade de Yale, vítimas de bullying são de duas a nove vezes mais propensas a considerar o suicídio como saída do que as não vítimas.
Vários canais de TV e o Blog www.huffingtonpost.com patrocinam campanhas contra obullying. O pai de um adolescente que se suicidou por causa do bullying, ano passado, admite que "o bullying não é o mesmo problema de tempos antigos, como nos acostumamos. Com as redes sociais, computadores e celulares, tornou-se um problema muito maior. É agora um problema de saúde".
No Brasil, ao menos 28% dos estudantes brasileiros entre as 5ª e 8ª séries do Ensino Fundamental já sofreram maus-tratos, na forma de bullying. Segundo uma pesquisa divulgada pela ONG Plan Brasil, 1.477 dos 5.168 estudantes entrevistados sofreram algum tipo de agressão.
Um em cada três estudantes de 14 anos no Brasil declaram já ter sofrido bullying na escola. Esse é um tema que também no Brasil vem preocupando as autoridades da educação, Por enquanto, não há um programa, nem uma campanha sistemática para acabar ou pelo menos inibir essa prática nefasta contra pessoas indefesas, principalmente jovens. Inibi-lo está mais a cargo de professores e pais, do que pela forma repressiva.
A punição imposta aos jovens americanos, pelo repúdio que recebeu da sociedade, talvez seja um caminho para inibir a prática do desrespeito aos outros. No Brasil, como não se entende ainda o bullying como uma problema social, como de resto em outros temas de interesse público, Congresso Nacional, governo federal e Justiça são lentos em adotar medidas coercitivas e punitivas. Talvez esteja na hora de rever o que estamos fazendo para proteger nossos jovens e evitar mais uma crise grave nas escolas, onde crise é o que não falta.
João José Forni é Jornalista, Consultor de Comunicação