O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse nesta quinta-feira (22) que o Brasil enfrentará “problemas graves” no fornecimento de energia, entre eles um possível novo racionamento, caso os reservatórios das principais hidrelétricas baixem a 10% de armazenamento de água.
De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as represas de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, que juntas respondem por cerca de 70% da capacidade de geração de energia no país, registram atualmente nível de 17,43%.
“Mantido o nível [de armazenamento de água] que nós temos hoje dos reservatórios, temos energia para abastecer o Brasil. É óbvio que, se tivermos mais falta de água, se passarmos do limite prudencial de 10% nos nossos reservatórios, aí estamos diante de um cenário que nunca foi previsto em nenhuma modelagem”, disse Braga a jornalistas, em Brasília.
Questionado se o limite de 10% seria o máximo para que o governo decrete um novo racionamento de energia no país, o ministro respondeu: “O limite de 10% é o estabelecido pelo Cepel [Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, ligado à Eletrobras] como máximo para funcionamento das nossas usinas. Portanto, a partir daí nos teríamos problemas graves”, afirmou Braga, complementando, em seguida, que o país está “longe disso.”
Situação das hidrelétricas
As hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste têm sofrido com a falta de chuvas desde o final de 2012, o que provoca queda no armazenamento de seus reservatórios.
O governo tinha expectativa que eles voltassem a encher durante este período úmido, que começou em novembro e termina em abril. Mas as chuvas continuam escassas e, nos últimos dias, o nível dessas represas tem caído ao invés de subir.
A situação elevou os temores de um novo racionamento de energia no Brasil, a exemplo do que ocorreu em 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.Grande parte das hidrelétricas tem atualmente menos água armazenada do que em 2001. O país só não passa ainda por um racionamento por que, hoje, existem aqui mais termelétricas, usinas que geram energia por meio da queima de combustíveis como óleo e gás.
Segundo o ONS, cerca de 20% da energia consumida atualmente no Brasil vem das termelétricas. Em situações normais, esse percentual é bem normal.
Medida prudencial
Durante a entrevista, Braga evitou usar a palavra racionamento. Questionado se o governo adotaria a medida, ele respondeu que “é claro que, se nós tivermos que tomar uma medida prudencial, nós tomaremos. A medida que for necessária nós tomaremos.”
Ele informou que, por questões técnicas, nenhuma hidrelétrica consegue gerar eletricidade com armazenamento abaixo dos 10%. E complementou que, se o governo tiver que adotar alguma medida para preservar os reservatórios, isso ocorrerá antes de atingirem esse índice.
Argentina
Braga também comentou a importação de energia da Argentina feita pelo Brasil na terça (20) e quarta (21), na sequência do apagão que atingiu 11 estados e o Distrito Federal, na segunda (19).
Ele disse que a solução foi adotada devido a restrições em linhas de transmissão que impediram o envio de eletricidade do Nordeste para o Sudeste, principal centro consumidor do país e que tem batido recordes de demanda devido ao calor intenso.
“Nós não podíamos adicionar ao que nós já estávamos trazendo do Nordeste [para o Sudeste], naquele determinado momento, mais energia. Nós tínhamos limitações em determinados entroncamentos, daí a opção de trazer [da Argentina].”
Braga afirmou que a medida “não significa dizer que esteja faltando energia” no Brasil, mas sim que o país não tem condições de “fazer essa energia chegar por aquele caminho ao Sudeste.”
O ministro afirmou que não ficou sabendo com antecedência da importação, feita por meio de um acordo de troca entre os dois países que existe desde 2006 (o Brasil também já forneceu eletricidade para o vizinho). Não há cobrança pelo insumo.