Pelo menos 21 pessoas, entre elas uma criança de cinco anos, morreram nesta segunda-feira (19) em bombardeios na Faixa de Gaza, no sexto dia da ofensiva militar israelense, que desde seu início causou a morte de 98 palestinos e três israelenses, indicaram fontes médicas palestinas e autoridades israelenses.
Um palestino morreu nesta segunda-feira em um novo ataque aéreo de Israel contra a torre Shuruq em Gaza, onde vários meios de comunicação palestinos e internacionais têm seus escritórios, entre eles a rede de televisão Al-Aqsa do Hamas.
Este foi o segundo ataque contra o edifício nos últimos dias.
Por sua vez, dois palestinos morreram em um ataque contra o acampamento de refugiados de Nusseirat, no centro de Gaza, indicaram médicos.
Durante a tarde, uma pessoa morreu e outra ficou ferida quando um míssil atingiu um veículo no norte da cidade de Gaza, indicou o ministério da Saúde do Hamas, no poder em Gaza.
Os serviços de saúde também indicaram que um homem de 22 anos não resistiu aos ferimentos sofridos no domingo no acampamento de refugiados de Maghazi, no centro de Gaza.
Outros três palestinos, que haviam sido feridos, também morreram, segundo as mesmas fontes.
Dois homens de cerca de trinta anos foram assassinados quando circulavam em uma moto na região leste de Khan Yunes (sul), perto da fronteira com Israel. Uma criança que estava com eles ficou gravemente ferida, de acordo com os serviços de emergência de Gaza.
Pouco antes, dois agricultores morreram em um ataque em Qarara, a leste de Khan Yunes, no sul da Faixa de Gaza.
Nesta cidade, um homem de 23 anos morreu quando teve seu carro atingido.
Além disso, três pessoas faleceram em um ataque contra um automóvel em Deir al-Balah, no centro de Gaza. Os três eram de uma mesma família.
Nesta manhã, quatro pessoas foram mortas, entre elas duas mulheres e uma criança, em um ataque no bairro Zeitun de Gaza.
O ministério da Saúde disse que o corpo de um agricultor de 50 anos foi encontrado no norte de Beit Lahiya.
O domingo foi o dia mais violento dos seis de ofensiva, com 31 mortes, em sua maioria mulheres e crianças.
Israel bombardeou nesta segunda-feira dezenas de supostos redutos de militantes na Faixa de Gaza, e os palestinos continuaram disparando foguetes contra o sul israelense, enquanto se intensifica a pressão internacional por uma trégua no conflito.
Após uma madrugada de relativa calma, militantes da Faixa de Gaza dispararam 12 foguetes contra o sul de Israel num intervalo de dez minutos, sem causar vítimas, segundo a polícia israelense. Um dos projéteis caiu perto de uma escola, que estava fechada no momento.
Mortes de civis
As mortes de 11 civis palestinos --sendo nove de uma só família, abrangendo quatro gerações-- em um bombardeio no domingo motivaram novos apelos internacionais pelo fim dos seis dias de hostilidades.
O fato também pode colocar em xeque o apoio ocidental a uma ofensiva que Israel diz ser justificada pela autodefesa, após anos sofrendo ataques de foguetes.
Os militares israelenses não comentaram relato do jornal esquerdista "Haaretz", segundo o qual a casa da família Dalu foi atingida por engano, numa ação que tinha como alvo um especialista em foguetes do grupo islâmico Hamas, que governa Gaza.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, é esperado no Cairo para dar peso às tentativas de mediação feitas pelo governo do Egito.
A imprensa israelense disse que uma delegação do país também está no Cairo, mas o governo do premiê Benjamin Netanyahu não quis comentar essa informação.
Falando em Bruxelas antes de uma reunião de ministros das União Europeia, o chanceler italiano, Giulio Terzi, disse haver condições para "um cessar-fogo nas próximas horas", e que o governo de Israel sinalizou "não haver interesse algum" em invadir Gaza.
"Obviamente, essa moderação israelense deve se basear numa garantia de que os lançamentos de foguetes devem parar", acrescentou.
Na segunda-feira, a China pediu aos envolvidos que parem a violência, e o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou no fim de semana que seria "preferível" se Israel não invadisse Gaza por terra.
A presidente brasileira Dilma Rousseef conversou no domingo por telefone com o presidente egípcio, Mohamed Morsi, e com o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, sobre a crise no Oriente Médio.
Segundo o Blog do Planalto, Dilma manifestou a Ban ""a preocupação do Brasil com o uso desproporcional da força no conflito entre Israel e a Palestina, e disse que é importante que as Nações Unidas assumam plenamente as suas responsabilidades na questão.
Izzat Risheq, assessor da liderança política do Hamas, escreveu no Facebook que o grupo só aceitará uma trégua se Israel "parar sua agressão, acabar sua política de assassinatos dirigidos e suspender o bloqueio a Gaza".
Pelo Twitter, o vice-premiê israelense, Moshe Yaalon, listou as condições do seu governo: "Se houver tranquilidade no sul e nenhum foguete ou míssil for disparado contra os cidadãos de Israel, nem ataques terroristas forem engendrados a partir da Faixa de Gaza, não haverá ataque".
Yaalon disse também que Israel espera o fim da atividade guerrilheira de palestinos na vizinha península do Sinai, região desértica e pouco vigiada que pertence ao Egito.
Netanyahu diz ter dado garantias aos líderes mundiais de que Israel vai se empenhar ao máximo para evitar vítimas civis em Gaza.
A China, que tem desenvolvido boas relações com Israel, disse na segunda-feira estar extremamente preocupada com as operações militares de Israel em Gaza. "Condenamos o uso excessivo da força causando mortes e ferimentos entre pessoas comuns inocentes", disse Hua Chunying, porta-voz da chancelaria.
Antes de embarcar para o Cairo, Ban pediu a Israel e aos palestinos que cooperem com os esforços do Egito na busca por um cessar-fogo.
Em cenas que lembravam a invasão israelense a Gaza na virada de 2008 para 2009, tanques, artilharia e infantaria se concentraram em acampamentos ao longo da fronteira - um trecho de areia rasgado por uma cerca de arame farpado -, enquanto comboios militares se deslocavam pelas estradas da região.
Israel autorizou a convocação de até 75 mil militares reservistas, e até agora mobilizou cerca de metade deles.
Um ataque mais sangrento com um foguete palestino poderia ser suficiente para que Netanyahu autorizasse uma ofensiva terrestres, apesar dos riscos políticos que podem decorrer caso Israel sofra um número elevado de baixas. Netanyahu disputa um novo mandato em janeiro, e é favorito para conquistá-lo.
Segundo pesquisa do "Haaretz", 84% israelenses apoiam a ofensiva em Gaza, mas só 30% querem uma invasão. Na opinião de 19%, o governo deveria negociar uma trégua rapidamente.
O objetivo declarado de Israel é esvaziar os arsenais de Gaza e obrigar o Hamas de interromper o lançamento de foguetes contra cidades israelenses na região da fronteira.
Há anos, tais cidades sofrem com os foguetes, mas eles agora estão com alcance maior, chegando a ameaçar Tel Aviv e Jerusalém. Em geral, no entanto, o poderio bélico de Israel continua sendo muito superior.
Autoridades israelenses anunciaram na segunda-feira novas rotas aéreas no acesso ao Aeroporto Internacional Ben Gurion, para evitar riscos associados à operação de sistemas militares de interceptação de foguetes. Não há indicações, no entanto, de que pousos e decolagens no local tenham sido afetados.
Uma autoridade próxima ao premiê Benjamin Netanyahu disse à agência Reuters nesta segunda que o país está "pronto" para invadir Gaza, mas ainda prefere a solução diplomática que garanta paz à população do sul israelense.
Como começou?
No dia 14 de novembro, uma operação militar israelense matou o chefe do braço militar do grupo Hamas na Faixa de Gaza, Ahmed Jaabali. Segundo testemunhas, ele dirigia seu carro quando o veículo explodiu. Seu guarda-costas também morreu.
Israel afirma que Jaabali era o responsável pela atividade "terrorista" do Hamas - movimento islâmico que controla Gaza - durante a última década. Após a morte, pedidos imediatos por vingança foram transmitidos na rádio do Hamas e grupos militantes menores alertaram que iriam retaliar. "Israel declarou guerra em Gaza e eles irão carregar a responsabilidade pelas consequências", disse a Jihad Islâmica.
No dia seguinte à morte de Jaabali, foguetes disparados de Gaza mataram três civis israelenses, aumentando a tensão e ampliando o revide aéreo de Israel - que não descarta uma operação por terra. Os bombardeios dos últimos dias, que já atingiram a sede do governo do Hamas na operação chamada de "Pilar defensivo", são a mais intensa ofensiva contra Gaza desde a invasão realizada há quatro anos na região, que deixou 1.400 palestinos mortos e 13 israelenses.
Acredita-se que a metade dos mortos sejam civis, o que desperta críticas à ação de Israel. O país alega que os membros do Hamas se escondem entre a população civil.