O campeão olímpico Wallace mostrou-se surpreso com a suspensão de 5 anos a que foi submetido pelo Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (CECOB), na última terça-feira. O jogador de vôlei tinha pena inicial de 90 dias de gancho devido ao post com enquete sobre tiro no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas viu a punição crescer depois de entrar em quadra na final da Superliga no último domingo, amparado por uma liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva do vôlei (STJDV). Em entrevista ao Esporte Espetacular, o oposto do Cruzeiro considerou a suspensão desproporcional.
- Me surpreendeu bastante. Cinco anos é muita coisa. Assim, hoje tenho 35, vou fazer 36 neste ano. Se realmente se concretizar isso daí, teoricamente acabou para mim, mas espero que isso mude, que isso se reverta de alguma forma. Que seja uma punição razoável. Saiba que você está abrindo um precedente. Eu tomei 17 jogos. Hoje a punição máxima no vôlei acho que são 12. Agora os caros aumentaram para cinco anos. A punição máxima para doping são dois anos, três, quatro, não sei. Tô tomando mais. É bem desproporcional, por uma postagem de meme. Eu me arrependi profundamente de ter feito isso. Se soubesse, obviamente não teria feito, estaria jogando. Cara, eu errei, como qualquer um erra, mas a proporção que se tomou por ser eu, ter de pagar nessa moeda e pronto... - disse Wallace.
A postagem que Wallace cita na entrevista como um "meme" trata-se de um post do jogador com fotos em um clube de tiro e uma caixa de perguntas para os fãs. Um deles pergunta se o jogador daria um tiro no rosto do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em resposta, Wallace abriu uma enquete para saber se algum de seus seguidores faria isso.
O aumento da suspensão determinado pelo CECOB se deve ao fato de Wallace ter desrespeitado a punição anterior de 90 dias de gancho, apesar de o campeão olímpico contar com uma liminar do STJDV. Antes da final da Superliga, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) levou o caso ao Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA), que deu parecer favorável ao jogador. No entendimento do CECOB, porém, a decisão de suspender Wallace era soberana.
- Não reconheceram o CBMA, não reconheceram o STJD. O que eles falaram está falado. Não tem a quem recorrer - disse o oposto do Cruzeiro.
A defesa de Wallace afirmou que deve recorrer da nova pena junto ao CBMA e, em última instância, à Corte Arbitral do Esporte (CAS). Caso perca a disputa no Tribunal, o campeão olímpico disse que não vai se aposentar.
- Não vou parar de jogar. Acredito que ainda tenha possibilidade de jogar fora do Brasil, então não vou parar. Leia mais - Cada um por si: elenco do Flamengo se divide na falta de comando que vai além de Vítor Pereira
Entenda o caso da suspensão de Wallace
Quais foram as primeiras consequências para o caso Wallace?
Após a publicação, o ministro da Secretaria da Comunicação do Governo Federal, Paulo Pimenta, acionou a Advocacia-Geral da União (AGU). A entidade, então, solicitou ao Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil e à Confederação Brasileira de Vôlei a instauração de processos contra Wallace. Os pedidos, então, foram aceitos.
Qual foi a primeira punição a Wallace?
Após o post, Wallace foi suspenso provisoriamente até ser julgado. O julgamento ocorreu no dia 4 de abril, em audiência do Conselho de Ética do COB. O jogador foi punido com 90 dias de suspensão. A decisão definiu a suspensão do atleta com início a partir de 3 de fevereiro, data de entrada do processo, até 3 de maio. Assim, Wallace estaria fora da reta final da Superliga Masculina.
Quando Wallace foi liberado para jogar?
A defesa de Wallace, então, deu entrada com processo no Supremo Tribunal de Justiça Desportiva do Vôlei. Os advogados do jogador usaram o argumento de que a punição do Conselho de Ética do COB "deixou dúvidas acerca da punição no âmbito das competições nacionais", uma vez que determina a impossibilidade temporária de exercício de quaisquer funções junto ao COB e Confederações.
Eduardo Affonso de Santis Mendes de Farias Mello, presidente em exercício do STJD do vôlei, concordou com o argumento e concedeu liminar ao jogador. Assim, em teoria, o jogador estaria liberado para jogar a reta final da Superliga.
Como o processo foi parar no CBMA?
A CBV, porém, viu um impasse entre a decisão do Conselho de Ética do COB e a liminar emitida pelo STJD do vôlei. Assim, adiou o primeiro jogo entre Cruzeiro e São José, pela semifinal da Superliga Masculina, e acionou o Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem. O órgão, privado, é usado para avaliar e mediar casos conflitantes.
A decisão da entidade saiu a cerca de uma hora da partida entre Cruzeiro e São José. O CBMA deu razão à liminar emitida pelo STJD, dando aval, então, à liberação de Wallace. O jogador, porém, não foi à quadra nas semifinais.
Por que Wallace jogou a final da Superliga Masculina?
Classificado para a final da Superliga masculina, o Cruzeiro não definiu em um primeiro momento sobre a escalação de Wallace. Até a véspera da final, aliás, o mais provável era que o jogador não entrasse em quadra. O clube, àquela altura, temia alguma punição ao relacionar o oposto. Ele, porém, acabou relacionado e marcou o último ponto da conquista do time mineiro. O fato não agradou ao Conselho de Ética do COB, que se reuniu por uma nova punição.
Qual foi a nova decisão do CECOB no Caso Wallace?
O Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil decidiu aumentar de 90 dias para cinco anos o tempo de suspensão de Wallace por post com enquete sobre tiro no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O oposto entrou em quadra na final da Superliga masculina, respaldado por uma liminar do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva. O Conselho, porém, entende que a suspensão era soberana.
Além da suspensão a Wallace, o Conselho também anunciou punição à Confederação Brasileira de Vôlei. A CBV foi desvinculada do COB e punida com a perda de repasses de verba por seis meses. Além disso, Radamés Lattari, presidente em exercício da entidade, foi suspenso.
O que pode acontecer após a nova punição no caso Wallace?
A decisão do Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil de aumentar a suspensão a Wallace e desvincular a Confederação Brasileira de Vôlei põe em risco o caminho do esporte rumo às Olimpíadas de Paris, no ano que vem. As consequências, porém, iriam além da perda financeira. Suspensa, a entidade que gere a modalidade não poderá, por exemplo, inscrever jogadores para os torneios Pré-Olímpicos, no fim do ano.
Havia o entendimento de que a decisão poderia ser acatada ou não pelo COB. Mas, segundo apuração do ge, o Comitê tem a obrigação de cumprir a decisão de órgãos relacionados ao esporte. O Conselho de Ética, por sua vez, tem autonomia prevista no estatuto da entidade. Assim, a decisão divulgada nesta terça-feira terá de ser executada. A CBV ainda estuda medidas cabíveis.
Os Pré-Olímpicos são a primeira porta de classificação do vôlei de quadra para os Jogos de Paris. Ainda que sejam organizados pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB), com a chancela do COI, o regulamento afirma que “cada Comitê Olímpico Nacional deve, sob a recomendação de sua Federação Nacional, escolher os atletas”, respeitando critérios pré-estabelecidos.
Wallace e CBV vão recorrer da nova punição?
As defesas de Wallace e da CBV ainda analisam os próximos passos. As duas partes divulgaram nota contra a punição e prometeram ir até as últimas consequências jurídicas para que a pena seja revertida.
Em nota divulgada nesta quinta-feira, advogado do oposto do Cruzeiro, Leonardo Andreotti, voltou a questionar o amparo jurídico da decisão e afirmou haver falhas no processo que impossibilitaram a ampla defesa do campeão olímpico. Um possível pedido de recurso junto ao Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA) ainda está sendo avaliado.
O que diz a FIVB sobre o caso Wallace?
Em contato com o ge, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) enviou um comunicado sobre o caso. A entidade que gere o voleibol no mundo afirmou que, por ora, a punição é restrita ao âmbito olímpico nacional.
- A FIVB foi informada sobre a suspensão da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) através da imprensa, contudo ainda não recebeu qualquer comunicado oficial do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) nem do Comitê Olímpico Internacional (COI). Gostaríamos de salientar que esta decisão se limita à competência do COB e qualquer decisão relacionada com a suspensão da Federação Nacional como membro da FIVB apenas pode ser tomada pelo Conselho de Administração da FIVB. A FIVB não fará mais comentários antes de rever a decisão acima mencionada juntamente com o COI - diz o comunicado.
O que diz o Cruzeiro?
O Cruzeiro afirmou em nota oficial que Wallace "cometeu um grande erro. Se desculpou e foi punido". O time em um primeiro momento chegou a afastar o campeão olímpico por tempo indeterminado, mas reintegrou o jogador no fim de fevereiro após o STJD do vôlei arquivar o processo movido pela Advocacia-Geral da União (AGU) contra o oposto.
Para o Cruzeiro, Wallace "foi ilegalmente suspenso de forma cautelar, há quase três meses". O clube ainda afirma que Conselho de Ética "se confere de uma competência que não possui" ao "ignorar a decisão do STJD do vôlei, órgão que, segundo o artigo 217 da Constituição Federal, é responsável por julgar as questões envolvendo disciplina e competição".
O clube vê a determinação de aumentar a suspensão de Wallace como uma clara "intervenção pública e política no esporte brasileiro" e avisa que vai tomar as medidas judiciais cabíveis para proteger os direitos do jogador.
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