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Neste momento de crise é urgente a adoção rigorosa das medidas de bloqueio da transmissão na quase totalidade dos Estados e capitais, defende a Fiocruz
A Fundação Oswaldo Cruz defendeu medidas mais rígidas, como o lockdown, em todos Estados do Brasil que se encontram na zona de alerta crítico da Covid-19, entre eles, consta Mato Grosso. Das 27 unidades federativas do Brasil, 25 estão na zona de alerta crítica para o vírus, conforme Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 da Fiocruz, divulgado nessa terça (23.03), sendo que apenas Amazonas e Roraima estão em estado médio.
O Boletim aponta ainda, o agravamento da covid-19 no Brasil, com valores extremamente altos de casos e óbitos diários pelo vírus, bem como, tendência de aceleração da transmissão do Sars-CoV-2 e o quadro muito crítico das taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país.
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“Desde o início da pandemia os estudos científicos apontaram a necessidade da adoção da combinação de medidas não-farmacológicas prolongadas, envolvendo distanciamento físico e social, como o uso de máscaras e higienização das mãos, com ações intermitentes de bloqueio (lockdown), com restrição da circulação e de todos os serviços não-essenciais” cita trecho do Boletim.
Conforme a Fiocruz, estas medidas deveriam ser mantidas até que tivéssemos a vacinação da maior parte da população e tinham como objetivos a preservação da vida e não exceder as capacidades instaladas dos serviços de cuidados intensivos.
Contudo, a Fundação diz que com a “ausência de articulação, integração e coordenação entre muitos municípios de uma mesma região (Governos municipais e estadual) e entre os Estados que compartilham limites territoriais (Governos estaduais e federal), com adoção parcial da combinação das medidas não-farmacológicas (prolongadas e intermitentes) ou flexibilização precoce das mesmas, sem levar em consideração as evidências epidemiológicas e científicas sobre a pandemia, o vírus e a doença, bem como as recomendações e experiências que deram certo em outros países, nos conduziu à situação atual de colapso do sistema de saúde”.
“Neste momento de crise é urgente a adoção rigorosa das medidas de bloqueio da transmissão na quase totalidade dos Estados e capitais que se encontram na zona de alerta crítica, bem como nos municípios que integram regiões de saúde onde há altas taxas de ocupação de leitos UTI Covid-19. A coordenação e integração destas medidas, articuladas entre os diferentes níveis de Governo e com ampla participação da sociedade, é vital neste momento” recomenda a Fiocruz.
De acordo com a instituição, mesmo que vários municípios e Estados já venham adotando estas medidas, é fundamental que Governos municipais, estaduais e federal caminhem todos na mesma direção para ampliá-las e fortalecê-las, uma vez que a adoção parcial e isolada levará o Brasil ao prolongamento da crise sanitária.
A Fiocruz alerta que os dados relativos às taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS, obtidos em 22 de março de 2021, continuam apontando para um quadro extremamente crítico no país, sublinhando-se a saída do Estado do Amazonas da zona crítica para a zona de alerta intermediário, com taxa de 79%, e, em contraponto, a piora do indicador em alguns Estados, com destaque para os da região Sudeste.
Na última semana, segundo o Boletim da Fiocruz, a taxa cresceu em Minas Gerais de 85% para 93%, no Espírito Santo de 89% para 94%, no Rio de Janeiro de 79% para 85% e em São Paulo de 89% para 92%.
Nas regiões Sul e Centro-Oeste, todos os Estados e o Distrito Federal mantiveram-se com taxas superiores a 96%, com registro de valor superior a 100% no Mato Grosso do Sul (106%) - o que indica, segundo os pesquisadores, o uso de leitos não habilitados para Covid-19 no atendimento da demanda imposta ao sistema de saúde pela doença.
Já na região Nordeste, o Boletim aponta Piauí (96%), Ceará (97%), Rio Grande do Norte (96%) e Pernambuco (97%) destacaram-se com as piores taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos. Com exceção de Paraíba, nos demais Estados as taxas estão entre 85% e 89%. Na Região Norte, Rondônia (100%), Acre (94%) e Amapá (99%) apresentam taxas superiores a 90%, e Pará (88%) e Tocantins (88%) apenas um pouco abaixo do patamar.
De acordo com o Boletim, 19 capitais estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos iguais ou superiores a 90%, entre elas Cuiabá, com 99%, as demais são: Porto Velho (100%), Rio Branco (94%), Macapá (99%), São Luís (95%), Teresina (99%), Fortaleza (96%), Natal (96%), João Pessoa (93%), Aracajú (91%), Belo Horizonte (107%), Vitória (96%), São Paulo (92%), %), Curitiba (100%), Florianópolis (98%), Porto Alegre (103%), Campo Grande (106%), Goiânia (98%) e Brasília (99%).
Outras seis capitais estão com taxas superiores a 80% e inferiores a 90%: Belém (88%), Palmas (88%), Recife (88%), Maceió (89%), Salvador (87%) e Rio de Janeiro (83%). “Manaus, única cidade do Estado a possuir leitos de UTI Covid-19, ecoa a taxa do Amazonas (79%), enquanto Boa vista, capital de Roraima, com um único hospital com 90 leitos de UTI para adultos, apresenta a taxa de 64%”.
Ainda, 24 Estados e o Distrito Federal registram taxas iguais ou superiores a 80%. 17 apresentam taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 estão com taxas iguais ou superiores a 80 e 19 taxas iguais ou superiores a 90%.
Conforme os pesquisadores do Observatório, os números elevados retratam o colapso do sistema de saúde para o atendimento de pacientes que requerem cuidados complexos para a Covid-19, além de prejuízos imensuráveis no atendimento de pacientes que demandam cuidados em razão de outros problemas de saúde.
MEDIDAS
O Boletim recomenda adoção de medidas de Bloqueio ou Lockdown, com restrição das atividades não essenciais por cerca de 14 dias, tempo mínimo necessário para redução significativa das taxas de transmissão e número de casos e redução das pressões sobre o sistema de saúde.
Bem como, proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional; suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país; toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana; fechamento das praias e bares; adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público, quanto no privado; instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerando o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual; adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos; ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.
“Para que essas medidas de bloqueio possam ser bem sucedidas, elas devem ser adotadas conjuntamente, demandando cerca de 14 dias para que produzam resultados na redução das taxas de transmissão em aproximadamente de 40%, exigindo o monitoramento diário para acompanhar seus impactos na redução de casos, taxas de ocupação de leitos hospitalares e óbitos” cita Boletim.
Ainda, defende a ampliação da disponibilidade e o uso de máscaras, tendo como meta que, pelo menos 80% ou mais da população, as utilize de modo adequado, campanhas de distribuição gratuita de máscaras de pano multicamadas em áreas e pontos de maior concentração populacional e baixo percentual de uso, combinadas com campanhas governamentais e não-governamentais sobre sua importância e modo correto de utilização devem fazer parte desta estratégia e medidas mais restritivas de bloqueio devem ser preparadas com antecedência, de modo a contribuir para uma maior adesão da população e evitar a descontinuidade nos serviços essenciais e atendimentos de saúde.
O Boletim ainda orienta para preparação da adoção de medidas de bloqueio, devendo os governantes comunicar de maneira clara a população para que ela se prepare para permanecer o maior tempo possível em casa, sem se deslocar, fazendo-o apenas em caso de extrema necessidade.
“Orientação e apoio a territórios e populações vulneráveis, onde a possibilidade de estratégias de isolamento e distanciamento social sejam reduzidas, buscando alternativas com a participação e envolvimento da comunidade; Adiamento de consultas e exames de rotina para aqueles que não apresentam quadros de saúde com mudanças que impliquem cuidados de saúde; Preparação das equipes de saúde família para identificarem aqueles pacientes com consultas agendadas que precisam de acompanhamento ou medicamentos – uso de recursos de teleconsultas e visitas domiciliares; Manter consultas e exames de gestantes, de acordo com o agendamento; Gestores de hospitais devem antecipar, sempre que possível, a entrega de materiais, insumos, etc; Orientação à população para realizar exercícios físicos e, se em área externa próxima de casa, usar máscara; Gestores podem identificar parceiros para realização de ações humanitárias de forma coordenada, com o objetivo de organizar distribuições de alimentos prontos e água potável em pontos estratégicos, com auxílio de agentes públicos” diz orientações.
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