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Artigos Quinta-feira, 20 de Maio de 2021, 14:20 - A | A

Quinta-feira, 20 de Maio de 2021, 14h:20 - A | A

João Edisom*

Quanto pior melhor

por João Edisom*

Quando falamos em trabalho ou serviço público no Brasil sempre há um discurso pronto (rótulo) em forma de mantra para criticar. Este comportamento de manada faz parte também do comportamento de políticos, sejam eles os candidatos aos cargos públicos ou mesmo dos já eleitos que por ser oposição não participam da gestão. Esta política de mero cancelamento discursivo, ou de bloqueio ou travamento via judicial, atrasa o país e mata mais gente que a própria corrupção em si.

A ausência de uma ética pública por si só já seria um grande problema. Se somarmos esta questão aos gestores mal intencionados que fazem do dinheiro público um bem privado, através dos desvios direcionados e da corrupção sistêmica, veremos que parte significativa dos esforços do país se perde no submundo do crime e não chega a beneficio da sociedade.

Mas como o desconhecimento da funcionalidade da máquina pública é evidente entre muitas das pessoas que são eleitas, junto a necessidade de estarem em evidência na imprensa, faz com que muitos dos que foram eleitos para fazer o município, estado ou país funcionar acabem sendo atrapalhadores que travam ações importantes para a população.

Não fazer e nem deixar fazer tem sido uma constante entre homens públicos que foram eleitos para fazerem. Oposição não pode ser sinônimo de inutilidade ou de atraso em obras ou ações que resultem em beneficio social. É necessário rever o papel de opositor, que deve ser aos concorrentes políticos e não contra as pessoas que vivem no município, estado e país.

Discursos vazios, carregados de artimanhas e algumas vezes de inverdades não poderiam passar impunemente. Há uma ausência de ações dos órgãos controladores no sentido de responsabilizar criminalmente e até economicamente políticos com essas práticas de meros cancelamentos ou travamentos pelo travamento.

O Tribunal do “quanto pior melhor” não realiza seus julgamentos com igualdade ou proporcionalidade. Primeiro, porque deixa-se de discutir ideias e passa-se a perseguir pessoas.

A prática do quanto pior melhor não é nova na política, mas no Brasil, a partir do erro estratégico da oposição durante a CPI do Mensalão (2005), passou a ser usado como algo da cartilha de quem sai derrotado nas urnas ou de quem deseja um cargo acima do que está exercendo.

Recordando o fato: O escândalo do mensalão estourou em 6 de junho de 2005, quando o então deputado Roberto Jefferson disse ao jornal Folha de S. Paulo que o Partido dos Trabalhadores (PT) pagou a vários deputados 30 mil reais por mês para votar legislação que favorecia o partido e o governo na Câmara dos Deputados.

A CPI comprovou as denúncias e a oposição ao invés de ir para o pedido de um Impeachment, alcunhou a frase “deixa sangrar até as eleições”. Resultado? Perderam as eleições justamente por subestimar a força da máquina. Desde então os que perdem as eleições passam a atuar de forma continua para atrapalhar mais que colaborar na gestão. Quem sofre é o povo que fica sem os benefícios ou recebe com meses e até anos de atraso.

A prerrogativa de fiscalizar não pode ser banalizada e substituída pelo denuncismo vazio. Assim como a prerrogativa do foro privilegiado não pode ser barreira de criminalização de seu próprio mau uso quando há intenção clara de apenas impedir que benefícios cheguem a sociedade.

O Tribunal do “quanto pior melhor” não realiza seus julgamentos com igualdade ou proporcionalidade. Primeiro, porque deixa-se de discutir ideias e passa-se a perseguir pessoas.

*João Edisom é professor.

 

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