por Eduardo Mufarejc*
No último final de semana, 6 milhões de brasileiros prestaram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Para eles, domingo foi a última etapa de uma longa fase de preparação para o exame.
Mas, para o Enem, no que diz respeito à sua função como instrumento de política pública, objetivo principal de sua criação, em 1998, os trabalhos apenas se iniciam. Os resultados colhidos nessas provas serão a base para o aperfeiçoamento do Ensino Médio brasileiro, impactando a educação de novas gerações de estudantes.
Desde 2009, quando o exame passou a ser utilizado também como uma espécie de vestibular universal, os resultados do Enem ganharam involuntariamente uma nova dimensão: orientar a escolha dos pais na matrícula de seus filhos.
Apropriado para fins publicitários, o resultado das notas do exame por escolas passou a ser usado como forma de demonstrar a qualidade delas e, assim, atrair a matrícula de novos alunos. Afinal, que pai ou mãe não quer colocar seu filho nas escolas que propiciam a seus alunos as melhores chances de ingresso no ensino superior?
No entanto, essa relação “classificação no Enem x qualidade da escola” é correta? A utilização de rankings gerais nesse exame é mesmo um bom indicador para os pais quanto à escola? Considerando que estamos em tempo de novas matrículas, é importante nos dedicarmos um pouco mais a essa questão.
Quando tratamos de exames como o Enem, o desempenho das escolas deve ser ponderado com alguns fatores, pois toda nota tem um porquê e deve ser avaliada dentro de seu contexto. O porte da instituição, o nível socioeconômico de seus alunos, o tempo de permanência do estudante no estabelecimento e até mesmo os processos de ingresso na escola impactam diretamente os resultados. Qualquer comparação que ignore essa necessária contextualização deve ser considerada indevida, como alerta o próprio Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pela divulgação dos resultados do exame.
O que se vê hoje é uma distorção, muitas vezes calculada e até antiética, daquilo que deveria ser a avaliação do Ensino Médio brasileiro. Para ludibriar pais que buscam no exame orientação para escolher onde matricular seus filhos, as escolas se valem de estratégias de questionável moralidade na busca por uma posição no topo do ranking.
Como, por exemplo, montar “classes de elite” compostas pelos alunos com os melhores desempenhos, ou atrair, através de bolsas de estudo e outras vantagens os melhores estudantes de outros colégios para que esses possam, através de sua capacidade e conhecimento, contribuir para uma melhor performance daquela instituição que sequer participou da sua formação.
Ou seja, ao procurar uma instituição de ponta de ranking, os pais, por vezes, estarão matriculando seus filhos em locais que têm, sim, alguns alunos com desempenho altíssimo. Com isso, o desempenho geral dessas instituições acaba sendo mascarado. Para alguns, aparentemente, nem todo aluno tem a mesma importância.
Portanto, cabe aos pais a melhoria da avaliação da escola. Se o desempenho no Enem deve ser levado em consideração, é necessário, antes, o desenvolvimento de uma interpretação crítica desse resultado. O próprio Inep disponibiliza em seu site o arquivo completo, com todos os dados de cada instituição, sem recortes. Nada melhor para a tomada de uma decisão bem informada do que ter a informação completa.
Além disso, é importante ainda entender que o papel da escola na formação de nossos cidadãos não pode se limitar ao desempenho no exame. É imprescindível conhecer seu projeto, a direção e equipe pedagógica - bem como os recursos utilizados, como o material didático e soluções educacionais que enriqueçam o processo de ensino-aprendizagem.
Escolas que manipulam o ranking, em vez do papel educativo que deveriam ter, agem de forma antiética, algo que certamente estará refletido na educação dos seus alunos.
Eduardo Mufarej é presidente da Somos Educação
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