por Wilson Pires de Andrade*
Elmaz Gattas Monteiro, para quem não conheceu essa senhora, que sempre residiu na Rua Pedro Pedrossian, centro de Várzea Grande, trata-se de uma professora e mãe de família que gostava de dizer que era realizada e, particularmente, muito feliz com a criação dos seus 29 filhos, sendo treze adotivos, e mais de 150 netos.
Nascida em 18 de junho de 1917, filha de Miguel Abdalla Gattas e Simoa Estelita da Costa Vital, dona Elmaz Gattas Monteiro era natural do município de Nossa Senhora do Livramento, morou em Várzea Grande desde 1945. Em N. S. do Livramento, ela viveu até os sete anos, ocasião em que se deslocou para Corumbá-MS, em companhia dos pais. Ficou em Corumbá até os doze anos, onde inclusive iniciou seus estudos na Escola Particular Eutrópia Pedroso.
Com doze anos, a família retornou para Mato Grosso, mais propriamente para Cuiabá. Dessa forma, dona Elmaz deu sequência nos estudos, por meio de participação ativa no Grupo Escolar Senador Azeredo. Em seguida, o caminho foi o Colégio Estadual Liceu Cuiabano. A Escola Normal – destaca foi feita no Sagrado Coração de Jesus.
E foi em 25 de abril de 1939, após a conclusão dos estudos, que dona Elmaz Gatass Monteiro se casou com Francisco Monteiro Sobrinho, um várzea-grandense responsável pela sua permanência em Várzea Grande até os últimos dias de sua vida. Desse relacionamento proporcionou o surgimento de dezesseis filhos, além de treze adotivos. “Os meus filhos estão todos aqui (Várzea Grande) ”, dizia ela, após observar que a grande parte dos filhos adotivos foi embora de Várzea Grande. “Nossa convivência sempre foi harmoniosa, e sempre procuramos eu e o meu marido, darmos os exemplos da vida para nossos filhos”, dizia dona Elmaz.
Um fato marcante e que a deixava satisfeita, conforme revelava era a presença dos filhos e netos, diariamente, todas as manhãs, para o chamado café. “Todos os dias eles estão aqui, é uma felicidade”, costumava dizer. Só para ter uma ideia, 65 pães eram consumidos pela família toda manhã.
Outro detalhe que a deixava comovida, era com a saudade, foi o tempo em que trabalhou junto à comunidade várzea-grandense.
Professora aposentada, 32 anos de magistério, dona Elmaz Gatass Monteiro, também possuía um curso de enfermagem e sempre procurou dar o melhor de sua pessoa em benefício, principalmente, da comunidade carente, através de atendimento, encaminhamento e partos. “Aqui não tinha nem mesmo farmácia. Transporte recordava, só de montaria e o ônibus, uma vez por dia”, lamentava.
Publicidade - Conforme ela dizia, Várzea Grande era muito pobre nessa época, não dispunha de comércio e indústrias, “a não ser as fábricas de banha”. A contrapartida lembrava é que o povoado era formado, como sempre, por um “povo carinhoso, agradável, que prezava muito a amizade”. Ao lado do esposo, dona Elmaz recordava que viveu na luta e na harmonia, no cumprimento do dever e na responsabilidade com os filhos.
Política - Em 1948 quando começou o movimento para criação do município, a família Monteiro teve influência importante, fato de contar com um vereador na Câmara Municipal de Cuiabá, filho de Várzea Grande, o doutor José Monteiro de Figueiredo. “Ele trabalhou muito, ao lado dos irmãos Curcínio Monteiro da Silva e Benedito Monteiro da Silva (Tino). Eles se juntaram a outras lideranças e trabalharam para elevar o distrito à categoria de município”, afirmava com orgulho Elmaz Gattas.
O primeiro prefeito do município, conforme recordava, foi um amigo da família Gonçalo Romão de Figueiredo. “Como filhos de Várzea Grande, em sua maioria, todos os prefeitos que passaram por aqui, trabalharam pelo desenvolvimento do município”.
A nível de lazer, na época, dona Elmaz Gatas recordava somente dos bailes e das festas das escolas. A professora Elmaz Gattas gostava muito de falar de suas atividades em prol da comunidade. Por exemplo, “Certa ocasião, quando estava na diretoria de uma escola, distribuiu cem pares de sapatos para as crianças mais carentes”, lembrava com bastante orgulho.
Sobre a Várzea Grande de hoje, ela via com satisfação o crescimento da cidade. “É um município grande que vem recebendo atenção da administração”. Após essa afirmação, dona Elmaz Gattas fez uma ressalva: “Eu sou sincera a ponto de elogiar ou até mesmo criticar um governo, quando o mesmo não esteja saindo bem”.
Comércio - Elmaz Gattas Monteiro foi comerciante desde que se casou com Francisco Monteiro Sobrinho, onde fabricou até banha. Após ser aposentada do magistério, montou uma empresa de armarinhos. Sempre foi muito atenta aos problemas do município e não se esquecia de mencionar que a cidade crescia muito e a periferia ainda padecia de muitas obras essenciais, como limpeza pública, por exemplo.
Para encerrar, dona Elmaz Gattas Monteiro, dizia que como mãe de família não podia esquecer as amizades sinceras que sempre ajudaram e deram atenção especial a família Monteiro, como o senhor Júlio Domingos de Campos (Fiote) e sua família, o ex-prefeito e conselheiro aposentado do Tribunal de Contas, Ary Leite de Campos e o fiel amigo Gonçalo Pedroso Branco de Barros. Ainda nesta lista, Elmaz Gattas destacava ainda os nomes do ex-deputado Licínio Monteiro da Silva e do coronel Ubaldo Monteiro da Silva.
Dizia muitas vezes com gratidão: “São homens que sabem como ninguém nesta cidade, o valor que representei para esta terra onde nasceram meus filhos, netos e toda geração dos Monteiros & Gattas”.
Com uma personalidade muito forte, liderança incontestável, dever cumprido e uma vida realizada, dona Elmaz Gattas Monteiro morreu no dia 15 de setembro de 2002, aos 85 anos.
*Wilson Pires de Andrade é jornalista profissional em Mato Grosso.
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