por Edina Araújo*
O primeiro semestre de 2023 se tornou sombrio para o Estado de Mato Grosso, revelando uma realidade que clama por mudanças drásticas e conscientização generalizada. Em um cenário marcado pela tragédia, a estatística de 22 mortes de mulheres, vítimas de homens que não aceitaram o fim dos relacionamentos e se achavam proprietários da mulher, é um alerta urgente e doloroso sobre a persistência do feminicídio em nossa sociedade.
O feminicídio, como uma manifestação extrema de violência de gênero, é uma ferida que continua a corroer nossa sociedade. Trata de um crime caracterizado por sua natureza brutal, frequentemente marcado por um padrão de possessividade e controle por parte do agressor, que não suporta a ideia de que sua companheira tenha o direito de escolher o término do relacionamento. Esse problema não é único de Mato Grosso; ele ecoa por todo o país, infiltrando em nossas comunidades e desafiando nossos valores fundamentais de igualdade e respeito.
As 22 vidas perdidas em 2023, não são apenas estatísticas frias. São histórias interrompidas, sonhos desfeitos e famílias dilaceradas. Cada vítima tinha um nome, uma identidade e um futuro. Suas mortes reforçam a necessidade de ações incisivas, tanto em nível institucional quanto individual, para erradicar esse flagelo. É inadmissível que, em pleno século XXI, mulheres ainda sejam assassinadas por exercerem sua autonomia, por buscarem uma vida livre de violência ou por simplesmente seguirem adiante com suas vidas.
O feminicídio não é apenas um problema criminal, é uma questão social que reflete desigualdades profundamente enraizadas. É um sintoma do patriarcado que persiste em nossa cultura, onde a noção de posse masculina sobre a vida e as escolhas das mulheres continua a ser alimentada. Para combater essa epidemia de violência, é imperativo enfrentar os preconceitos de gênero que perpetuam essa mentalidade opressora.
O papel do governo, das autoridades e das instituições é essencial nesse combate. Políticas públicas eficazes devem ser executadas para proteger e libertar as mulheres, além de oferecer a elas mecanismos de denúncia, acesso à justiça e redes de apoio, é importante que as instituições sejam mais rápidas do que os agressores.
A aplicação rigorosa da Lei Maria da Penha e do Código Penal em casos de violência doméstica e feminicídio é crucial para enviar uma mensagem clara de que tais atos não serão tolerados. Porém, o rigor da lei não pode ser seletivo, deve valer para todas as vítimas, desde a mais simples vítima até aquela onde há um clamor maior da sociedade.
Contudo, apesar de todas as garantias das instituições, a mudança precisa ocorrer em todos os níveis da sociedade. Educação e conscientização são ferramentas poderosas para erradicar a violência de gênero desde suas raízes. É preciso desafiar os estereótipos de gênero, promover o respeito mútuo e ensinar desde criança sobre igualdade, consentimento e respeito. Acabar com piadinhas ridículas que diminuem a mulher.
O apoio das comunidades, famílias e amigos às vítimas é vital para criar um ambiente onde denunciar a violência seja encorajado e as mulheres possam buscar ajuda sem medo.
Em Mato Grosso e em todo o Brasil, não podemos mais ignorar a terrível realidade do feminicídio. Cada vida perdida é uma chamada à ação, um pedido para que a sociedade se una em um esforço coletivo para eliminar essa violência. Precisamos lutar por um futuro onde todas as mulheres possam viver suas vidas sem temer pela própria segurança.
É uma batalha difícil, mas uma que não podemos nos dar ao luxo de perder. A transformação começa em cada um de nós, na rejeição absoluta da violência e na defesa dos direitos e dignidade das mulheres.
*Edina Araújo, jornalista e diretora do VGNOTICIAS
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