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Opinião Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2016, 10:58 - A | A

Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2016, 10h:58 - A | A

opinião

2016, o ano necessário

                                                                                                                      por José Antonio Lemos *

O arquiteto e urbanista em sua essência tem que ser antes de tudo otimista e esperançoso. Otimismo e esperança são características inseparáveis a quem baseado no presente trabalha com o futuro, aquilo que ainda não existe, sempre na perspectiva de que um dia venha a existir.

Não pode ser aliado do pessimismo e da desesperança, senão, qual a graça em trabalhar o futuro? Entretanto, refletir sobre 2016 e as perspectivas para 2017 coloca a prova qualquer estoque de otimismo e de esperança.

É pouco o esforço que faço a cada artigo para escoimar os aspectos negativos e ficar só com os positivos, como o trabalho de um garimpeiro apurando o cascalho para ficar só com o que é precioso. 2016 foi um ano duríssimo.

A lembrança que não me foge à cabeça é a de um furúnculo. Lembram de furúnculo? Palavra feia que não se fala mais e era tão comum na minha infância. As crianças do meu tempo tiveram pelo menos um.

Não se podia comer alimentos “quentes”, que hoje corresponderiam a “muito calóricos” e, então eram proibidos chocolate, manga e, até, bocaiuva! Inchava, doía, mas o pior era o tratamento feito em casa mesmo: espremer para sair o pus, enfiar no buraco uma gaze, colocar um emplastro quentíssimo, mercúrio cromo ou iodo banhando tudo e depois encher com um pó famoso na época.

Por fim, muita gaze e esparadrapos, concluindo a obra. Demorava semanas. A dor e a aflição no tratamento eram terríveis, mas, absolutamente necessário enfrentar. E tinha um tipo pior ainda de furúnculo que era chamado de “antraz”. Barbaridade!

A notícia boa é que nunca soube de alguém que tenha morrido dessas coisas, só agora no Google. 2016 foi um ano duríssimo no qual o Brasil começou a tratar o mal que o atormenta a décadas, séculos talvez, o furúnculo da corrupção, que, lhe rouba energias que deviam ser dirigidas ao bem-estar e à qualidade de vida de seu povo.

Como nos humanos o tratamento é cruel, aflitivo e doloroso, dando ideia de não acabar nunca. Mas é necessário e tem que ir até o fim, como nos antigos furúnculos.

O pior, porém, é que os furúnculos lá no fundo tinham um tal de “carnegão” que precisava ser extirpado totalmente, senão não curava de verdade e voltava. O emplastro quente era para “puxar” o tal carnegão para cima e, à medida que ia subindo a técnica continuava sendo espremer até sair tudo, por isso o tratamento demorava tanto.

No caso do Brasil, não há dúvida que chegamos ao “carnegão”. Ou será que não? Faz tempo que falamos ter chegado ao fundo poço, e no entanto, o poço sempre era mais profundo. Mas agora parece que atingimos o cerne, o núcleo duro do poder político corrompido, do carnegão nacional.

O tratamento é aflitivo, cruel e demorado, mas necessário e tem que ir lá no fundo usando o emplastro quentíssimo das delações premiadas para depois espremer à medida que o mal aflore até extirpá-lo na totalidade, em todos os setores e todos os partidos, espremidos com as unhas poderosas da Justiça.

Em 2016 o bem e o mal vieram juntos. O maior mal nacional foi a descoberta unânime do estágio avançado do furúnculo da corrupção no país, que sempre foi de existência conhecida, mas ninguém supunha sua real extensão, por sinal ainda desconhecida em sua totalidade.

O bem maior foi que a nação não teve medo de enfrentar a crueldade da cura, e parece disposta a levá-la até o fim, ainda que existam setores poderosos que pretendam interrompê-la. Que o Brasil continue seu tratamento por mais cruel e sofrido que seja, arrancando o carnegão até as raízes.

Só assim restará a esperança de um Brasil novo e em dias melhores para nossos filhos, netos e gerações futuras. Ainda que dura, esta é a mensagem possível de otimismo e esperança para 2017.

José Antonio Lemos dos Santos é arquiteto, urbanista e professor universitário

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